Angra 2 entra em parada de reabastecimento de combustíveis à zero hora

Angra 2 entra em parada de reabastecimento de combustíveis à zero hora

A Eletronuclear inicia nos primeiros minutos dessa segunda-feira (22) parada de reabastecimento de combustível de Angra 2, com redução do número de atividades e de profissionais envolvidos, em função da pandemia do novo coronavírus. O chefe do Departamento de Controle de Trabalho de Angra 2, Gedeon de Almeida Fernandes, informou à Agência Brasil que a pandemia causou muita preocupação no meio nuclear, tendo em vista que uma parada normal demanda muitas pessoas contratadas, inclusive no exterior, o que poderia levar, na ação programada, a uma aglomeração e, em consequência, à propagação do vírus. As usinas nucleares brasileiras são operadas pela Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras.

Logo no início epidemia do novo coronavírus, que no Brasil ocorreu em março passado, a Associação Mundial de Operadores Nucleares (Wano, na sigla em inglês), enviou questionário para que todas as usinas que teriam paradas nos meses próximos ou que já estivessem em curso informassem quais as medidas adotadas para mitigar os riscos de disseminação da covid-19. Com base nas respostas recebidas, foi elaborado um guia, publicado no dia 16 de abril, enumerando as boas práticas a serem adotadas nas paradas das usinas.

“As medidas que nós estamos adotando para essa parada têm como base esse guia”, disse Gedeon de Almeida Fernandes. Acrescentou que foram levadas em consideração também informações de outras usinas que já estavam efetuando paradas nos Estados Unidos e Espanha, entre outras. “Aí, geramos essas medidas que vão ser adotadas durante a nossa parada”.

Redução de atividades e colaboradores

Em atendimento à estratégia de distanciamento social, a principal medida consistiu em reduzir a quantidade de atividades a serem executadas porque, em consequência, poderia ser diminuído o total de pessoal necessário para as ações. A vinda dos técnicos do exterior tinha um complicador adicional, que foi a determinação do governo brasileiro, por meio de portaria publicada no dia 22 de maio, proibindo a entrada de estrangeiros no país.”Isso para a gente causou problema”, disse Fernandes.

A Eletronuclear informou às autoridades que necessitaria trazer, pelo menos, cinco especialistas estrangeiros para dar suporte aos profissionais brasileiros em termos de consultoria em áreas mais específicas e complexas. O governo acabou aceitando a argumentação e permitiu a entrada de apenas cinco especialistas alemães.

“Nós trazíamos, normalmente, cerca de 150 pessoas de fora. Reduzimos drasticamente para cinco”, disse Fernandes. O número de contratados no Brasil que, em uma parada normal, alcança 1,1 mil pessoas, baixou para 160 a 170. Uma parada típica dessa envergadura de Angra 2 demandaria até 1,2 mil pessoas, explicou o chefe do Departamento de Controle de Trabalho. Na parada inicialmente programada, seriam 4,5 mil atividades. Esse número caiu para 900 atividades. “É uma redução brutal no escopo da parada”.

Duração

A estimativa é de que essa paralisação da usina tenha duração de 22 dias, considerando as medidas de proteção à saúde que estão sendo adotadas e os atrasos na troca de vestimentas do pessoal para ter acesso ao reator e os cuidados para evitar aglomeração de pessoas nos mesmos locais. Usualmente, seriam necessários 35 dias para efetuar todas as 4,5 mil ações. “Reduz porque estamos fazendo o mínimo necessário”, confirmou Gedeon de Almeida Fernandes. Segundo a Eletronuclear, o grande desafio será realizar cerca de 20% das atividades de uma parada típica com cerca de 15% do pessoal normalmente disponível.

A principal atividade que será feita durante a paralisação é a recarga do núcleo da usina. Fernandes informou ainda que quando se faz a recarga, por especificações técnicas, aproveita-se a condição da recarga para fazer outros testes obrigatórios de instrumentação e parte elétrica. “Todos os testes ligados à segurança vão ser executados”, garantiu.

O diretor de Operação e Comercialização da Eletronuclear, João Carlos da Cunha Bastos, ressaltou que esta será uma parada inédita, bastante difícil e trabalhosa. Ele acredita, no entanto, que a missão será cumprida com sucesso. “Manter nossa geração disponível é essencial para o Brasil neste grave momento que estamos vivendo e, também, para assegurar o equilíbrio econômico da empresa”.