Avanço do mercado livre depende da liberação de novos consumidores

Avanço do mercado livre depende da liberação de novos consumidores

Empresas e agentes ligados ao setor ainda veem migração em alta no médio prazo, mesmo com redução de tarifas no ambiente cativo; aumento da geração distribuída deve ajudar na expansão.
 O crescimento do mercado livre de energia nos próximos anos, mesmo que em menor ritmo, depende da liberação da entrada de novos consumidores nesse ambiente. Apesar dos entraves, o aumento da geração distribuída ajudará a garantir parte da expansão.
“Os principais desafios que o setor enfrenta hoje para dar prosseguimento à expansão do mercado livre são a redução dos limites de carga para migração, até a adoção da portabilidade, ou seja, que todos os consumidores possam ser livres, além do desenvolvimento do modelo do comercializador varejista”, avalia o diretor-técnico da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), Alexandre Lopes.
Segundo ele, as iniciativas hoje em andamento no Ministério de Minas e Energia (MME), na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e os projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional se propõem a discutir soluções para adequar o modelo do setor, no qual o ingresso de consumidores no mercado livre é limitado.
Para garantir esse crescimento, entretanto, também é necessário atrair investimentos ao ambiente livre.
“Vemos um aumento gradual da quantidade de microgeração, novas cargas como veículos elétricos e outros equipamentos que certamente trarão novos desafios do ponto de vista de operação do sistema”, diz o gerente executivo comercial e planejamento energético da comercializadora Elektro, Marcelo Fernandez.
Ele ressalta que o setor pode enfrentar problemas com a falta de aportes. “Um exemplo para os próximos anos é a criação da tarifa branca”, lembra.
Na avaliação de Fernandez, a queda do consumo de energia nos horários de pico pode levar empresas a postergar investimentos na rede.
O executivo cita ainda a expansão da microgeração, que para ele, tem sido puxada pela entrada de novos fornecedores de painéis fotovoltaicos no mercado local.
“Estudos feitos pelo próprio MME e pela Empresa de Pesquisa Energética apontam uma expansão importante desta fonte de energia a partir de 2020. Assim, já temos processos desenhados para garantir a agilidade no tratamento das demandas [dos nossos clientes]”, conta ele.
A Tradener é outra comercializadora que vê novos negócios com migração e geração distribuída no médio prazo.
O diretor da empresa, Luís Gameiro, planeja oferecer serviços para empresas que queiram investir em geração distribuída sem ingressar no mercado livre.
“O financiamento desses projetos continua um desafio, porque as empresas até estão capitalizadas, mas aportes em infraestrutura são feitos via alavancagem [endividamento] e o crédito está restrito”, diz.
Gameiro espera a entrada de novos concorrentes entre as comercializadoras nos próximos anos, em função do crescimento do mercado livre.
“É natural que tenhamos cada vez mais empresas nesse ambiente: a nossa empresa já passou por uma consolidação há três anos. Além disso, podemos ver corretoras oferecendo produtos financeiros no setor”, cita o executivo da Tradener.
Consolidação
O analista de mercado do Grupo Safira, Lucas Rodrigues, enxerga a consolidação como um movimento esperado.
“Mas com o ritmo de migração dos consumidores se estabilizando, se algumas empresas foram criadas sem um capital de giro robusto para enfrentar essa redução no volume do mercado, estas companhias correm o risco de ter problemas”, observa.
Para Rodrigues, a entrada de consumidores no mercado livre ainda se manterá em ritmo elevado nos próximos meses, porque as tarifas no ambiente regulado seguem altas, apesar de recentes reduções.
“Vemos no médio prazo talvez uma diminuição da migração, mesmo assim, as tarifas do mercado cativo ainda estão elevadas, favorecendo a mudança. Mas sem economias como as de até 40%, quando a bandeira tarifária estava vermelha”, comenta Gameiro.
Segundo a Abraceel, os consumidores que migram do mercado cativo hoje têm reduzido até 30% os gastos com energia.
A expectativa da associação é chegar ao fim do ano com até 4 mil consumidores no mercado livre, o dobro do registrado em 2015.

Fonte: DCI 24/10/2016 Jéssica Kruckenfellner