Belo Monte: baixo deságio confirma expectativa dos agentes

Belo Monte: baixo deságio confirma expectativa dos agentes

Expectativa já era de um deságio pequeno por conta do preço-teto de R$ 83/MWh ter sido considerado baixo pelos agentes do setor

O preço final de R$ 77,97 por MWh do leilão da hidrelétrica de Belo Monte (PA, 11.233 MW) não foi considerado surpreendente para executivos e consultores procurados pela Agência CanalEnergia. Para os especialistas, a expectativa já era de um deságio pequeno por conta do preço-teto de R$ 83/MWh ter sido considerado baixo pelos agentes do setor. A principal surpresa do certame apontada pelos entrevistados foi a vitória do Norte Energia, consórcio que foi formado por último para a disputa.

O presidente da consultoria Excelência Energética, José Said de Brito, destacou que outro fator que previa um baixo deságio era o fato de o mercado apostar em um orçamento acima dos R$ 19 bilhões calculados pela Empresa de Pesquisa Energética. Na avaliação de Brito, o que permitiu o deságio de 6,02% foi o fato de haver uma participação menor de autoprodutores no consórcio vencedor.

“Consta que eles [consórcio vencedor] estão destinando apenas 10% da energia para autoprodutores. Eu acho que a estratégia do consórcio vencedor foi entrar com um pouco menos de energia destinada aos autoprodutores, deixando essa energia para tentar vender bem melhor no mercado livre”, analisou.

 

O diretor executivo da consultoria Andrade & Canellas, Silvio Areco, avalia que o preço de R$ 77,97 foi ‘excelente’ para o consumidor. Segundo ele, considerando atualizações, o preço está de acordo com os praticados em leilões anteriores, como os das usinas do Rio Madeira. ‘Foi um bom preço para quem vai comprar. Para quem vai vender, existe uma grande incógnita’, acredita.

A opinião foi compartilhada pela Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres, que acredita que o o preço final foi bastante atrativo para os consumidores cativos. No entanto, a associação está preocuopada com o destino da energia reservada ao mercado livre. ‘Para o consumidor cativo, é uma tarifa bastante atraente. A dúvida é de como essa energia reservada para os autoprodutores e para o mercado livre vai ser escoada’, observou o presidente da Abrace, Ricado Lima. O executivo afirmou que a expectativa da associação era por uma disputa mais acirrada do que a ocorrida nesta terça-feira, 20 de abril. ‘Não esperava um nível de agressividade tão alto na proposta como o que aconteceu’, avaliou.

A Associação Nacional dos Consumidores de Energia, também avalia que o preço final ficou adequado para o consumidor. Entretanto, o presidente da Anace, Carlos Faria, se mostrou preocupado com o modelo que permitiu a considerável participação de empresas estatais – Chesf (49,98%). ‘O consórcio vencedor tem praticamente metade de estatais e metade de privadas. Temos uma preocupação com uma participação estatal muito grande. O modelo é bom quando investimentos privados são atraídos para o setor. Queremos ver a modicidade tarifária e um preço que seja realista’, avaliou.

A Anace também está preocupada com as ações que tentaram impedir a realização do certame. Segundo Faria, essas ações continuarão, o que pode provocar uma demora além do prazo da obra, causando um problema para atender à demanda de mercado. ‘Não é realista imaginar que o consórcio vencedor possa, se tiver dificuldades, comprar energia para suprir o mercado se ele não conseguir concluir a obra no prazo’, alertou.

O Consórcio Norte Energia é formado pela Chesf (49,98%), Gaia Energia e Participações (10,02%), Construtora Queiroz Galvão S/A (10,02%), J Malucelli Construtora de Obras S/A (9,98%), Cetenco Engenharia S/A (5%), Galvão Engenharia S/A (3,75%), Mendes Junior Trading Engenharia S/A (3,75%), Serveng-Civilsan S/A (3,75%) e pela Contern Construções e Comércio Ltda (3,75%).

Por Danilo Oliveira

Fonte:Canal Energia, Planejamento e Expansão