Consumo de energia não muda sem horário de verão

Consumo de energia não muda sem horário de verão

RIO – O fato de o país não ter adotado o horário de verão pela primeira vez entre 2019 e 2020 não foi sentido pelo setor elétrico, confirmando a justificativa do governo para acabar com o regime que vigorava na estação há 35 anos.

O Ministério de Minas e Energia concluiu, em análise realizada em dezembro do ano passado, que “do ponto de vista do setor elétrico a não aplicação do horário de verão foi neutra, não contribuindo significativamente para o aumento ou para redução do consumo de energia.”

O principal argumento para a antecipação em uma hora dos relógios todos os anos no Brasil e em outros países sempre foi a redução do consumo de energia. A lógica é a de que, com uma hora a mais de luz solar no fim da tarde, as pessoas demorariam mais a acionar os interruptores.

No entanto, o consumo de energia em janeiro deste ano não corroborou essa ideia. Mesmo sem horário de verão, os brasileiros gastaram um pouco menos luz em janeiro deste ano do que no início do ano passado, quando foi adotado o regime especial.

Em janeiro deste ano o consumo de energia no país ficou em torno de 70 gigawatts médios, segundo estimativas de analistas, pouco menos que os 73 gigawatts registrados no mesmo mês de 2019, com o relógio adiantado.

O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata, confirma a queda na demanda em janeiro. Segundo ele, a ausência do horário especial não causou impactos relevantes na operação do sistema elétrico, e o verão mais chuvoso e com temperaturas amenas colaborou para isso com menor uso do ar-condicionado, por exemplo.

Especialistas ainda lembram que a recuperação lenta da economia é outro fator atenuante da demanda.

— Fazendo uma comparação de curto prazo, entre janeiro de 2020 e janeiro de 2019, percebemos que a carga neste ano está menor. Isso se deve principalmente a temperaturas mais amenas neste ano. No início do ano passado, por exemplo, tivemos recorde de demanda cinco vezes no sistema — afirmou Barata.

Especialistas concordam que, apesar de ser difícil medir exatamente o impacto de não se ter adotado o horário de verão, tudo indica que sua ausência não foi sentida no sistema elétrico. No entanto, destacam que ele ainda pode ser útil para a estabilidade do abastecimento de energia.

O horário de verão tinha como principal função reduzir o consumo no pico, que era entre 19h e 20h. Agora, os especialistas apontam que o horário de pico mudou. Ele se dá por volta das 15 h, puxado pela demanda industrial e comercial.

Para o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro, contudo, o horário de verão ainda é um instrumento de eficiência energética que deveria ser usado no Brasil. Tanto que ainda é adotado em muitos países para aproveitar mais a luz natural, lembra.

Além de gerar alguma economia, o especialista diz que o horário de verão tem uma outra finalidade ainda mais importante: evitar um desequilíbrio momentâneo entre oferta e demanda de energia, o que causa apagões.

— Este segundo objetivo é mais estratégico, pois as interrupções causam prejuízos de diferentes tipos — diz Castro. — A demanda de energia elétrica no Brasil tem crescido muito pouco, em razão da crise econômica. Ao mesmo tempo, houve aumento da oferta, com a inauguração de unidades geradoras de energia de diferentes tipos: hidrelétricas, eólicas, solares e termoelétricas. Não há atualmente este risco de apagão. Certamente essa situação de equilíbrio e de conforto explica a decisão do governo de acabar com o horário de verão.

Para Sami Grynwal, diretor da consultoria Thymos Energia, é difícil saber se houve aumento ou redução do consumo por causa do fim do horário de verão, mesmo com a queda em janeiro deste ano:

— Vários fatores influenciam o consumo de energia, como a economia e as temperaturas.

Grynwal também se mostra favorável à manutenção do horário de verão:

— A adoção do horário ainda trazia uma pequena economia, e qualquer economia é válida. Era pequena, mas existia. Acho que deveria ser repensada essa questão sobre adotar novamente o horário de verão, porque qualquer economia é positiva.

Procuradas pelo GLOBO, as distribuidoras de energia no Rio e em São Paulo não quiseram comentar o assunto.