Desconhecimento inibe adesão à Tarifa Branca

Desconhecimento inibe adesão à Tarifa Branca

Desconhecimento inibe adesão à Tarifa Branca

Em vigor desde janeiro de 2018, modalidade criada como forma de reduzir a conta de energia pode ter efeito inverso se o consumo não for deslocado do horário de ponta.

Desde o dia 1º de janeiro, consumidores de energia atendidos em baixa tensão, com gasto médio superior a 250 kWh por mês*, passaram a poder aderir à chamada Tarifa Branca, uma opção para quem deseja diminuir o valor gasto coma conta de luz. A nova modalidade foi criada como forma de aliviar o sistema elétrico durante os períodos de maior demanda e começou a ser oferecida no início de 2018, para aqueles que tivessem consumo médio acima de 500 kWh por mês. A transição está sendo feita gradativamente e a previsão é que até 2020 consumidores de qualquer faixa de consumo possam recorrer à essa alternativa.

 

Diferente do modelo convencional, que é baseado em um valor padrão, independente do dia e da hora, o cálculo da Tarifa Branca é feito de acordo com o consumo em três faixas de horário, durante os dias úteis: ‘Ponta’, ‘Intermediário’ e ‘Fora de Ponta’. Em cada período, o valor cobrado é diferente, sendo o horário de ponta o mais caro. Os horários variam de acordo com as distribuidoras de energia e a região do país. Em geral, a faixa de pico é compreendida entre 17h e 20h, com pequenas alterações de acordo com a localidade.

Dessa forma, a cobrança da Tarifa Branca está diretamente ligada aos hábitos de consumo dos clientes. A modalidade pode ser vantajosa para aqueles que utilizam aparelhos eletrônicos fora do horário de ponta ou que tenham possibilidade de mudar sua rotina. Em grandes centros urbanos, o desconto pode chegar a 17,5%, caso da concessionária Enel Distribuição São Paulo (antiga Eletropaulo), ou 14%, na Light, no Rio de Janeiro, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em áreas rurais, o percentual pode ser ainda maior. A Ceral, Cooperativa de Eletrificação Rural que atua nos municípios de Araruama, Rio Bonito e Saquarema, no interior do estado Rio, por exemplo, oferece um desconto na tarifa de cerca de 42% para seus clientes que utilizam a energia fora do horário de ponta. A agência destaca, no entanto, que o desconto máximo só ocorre se não houver consumo nenhum nos períodos de ponta e intermediário.

 

O pesquisador em Energia do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Clauber Leite, afirma que, diante desse fato, o consumidor deve avaliar sua rotina com cuidado antes de aderir à Tarifa Branca. Segundo o especialista, se o uso da energia não for bem administrado, o efeito pode ser inverso do esperado, ou seja, em vez de ter redução, os usuários do sistema podem ter um susto na conta, já que o valor pode subir mais de 80%. Ele aconselha que aparelhos com grande dispêndio de energia, como chuveiro elétrico, ar-condicionado, lavadora de roupa, secador de cabelo, devem ser evitados nos horários intermediários e de ponta.

“Se considerarmos uma residência com quatro pessoas, residentes em São Paulo, que utilizam uma lavadora de água quente durante 1h30min, duas vezes por semana, e que cada um tome banho com duração de 15 minutos por dia, a utilização de ambos os equipamentos representa cerca de R$ 87 da conta de luz. Se essa família optar pela Tarifa Branca, utilizando esses equipamentos fora da hora de ponta, pode economizar cerca de 15% e, caso utilize no horário de ponta, pode aumentar em 33% sua conta de luz”, exemplifica o especialista.

Como fazer a adesão

O especialista destaca que os consumidores que atendem ao perfil e estão interessados em aderir à nova tarifa, podem fazer uma simulação de quanto vão pagar em ferramentas disponíveis na internet, como a Calculadora Tarifa Branca, disponibilizada gratuitamente no site do Idec. Segundo Clauber Leite, o instrumento ajuda na tomada de consciência em relação aos hábitos e sua possível interferência no valor gasto com energia elétrica:

“A calculadora do Idec tem a vantagem de utilizar os dados reais do medidor do consumidor, bastando ele (consumidor) ter a disponibilidade de fazer quatro leituras em um dia típico do seu consumo. Inicialmente, ele deve escolher a sua concessionária na planilha, depois escolher o horário da primeira leitura, e automaticamente aparecerão os horários das demais medições. A leitura nos horários estipulados é importante para termos uma curva mais aproximada de como ocorre o seu consumo no dia a dia”, explica.

Se, ao fazer o teste, o cliente considerar a mudança vantajosa, ele deve entrar em contato com a sua concessionária de energia para pedir a alteração. Após a solicitação, a empresa tem 30 dias para instalar – sem custo – o medidor que faz as leituras nas diferentes faixas de horário. Caso o cliente não se adapte e queira retornar ao sistema, o prazo é de 180 dias.

Falta de informação

Apesar de já estar em vigor há um ano, a Tarifa Branca ainda tem baixa adesão. Dados da Aneel mostram que de janeiro a novembro de 2018, dos cerca de 10 milhões de consumidores que poderiam migrar para esse novo modelo de cobrança, apenas 3.076 unidades consumidoras de energia haviam aderido a essa opção. A Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace) aponta que um dos motivos é a falta de informação sobre o modelo tarifário: “O consumidor ainda não tem ou não recebeu todas as informações sobre a Tarifa Branca e, portanto, não sabe quais benefícios pode obter com essa modalidade”, afirma o diretor-presidente da Anace, Carlos Faria.

Ele complementa dizendo que, além da falta de entendimento sobre o novo modelo não há perspectiva de uma economia que seja realmente interessante para estimular a mudança por parte dos consumidores:

“A divulgação tem sido muito tímida. As distribuidoras apontam diversas dificuldades para ampliar o uso dessa tarifa: os investimentos na troca de medidores, porque há necessidade da instalação de medidores inteligentes, perda de receita e pouca atratividade para o consumidor. Também o “sinal de preço” é insuficiente para estimular os consumidores a mudar seu perfil de consumo e utilizar com maior intensidade a tarifa branca”, enumera.

O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite, reforça, afirmando que houve uma divulgação na mídia quando o novo modelo de cobrança foi liberado, mas que as distribuidoras não planejam nenhuma ação nesse sentido, já que não há incentivo para fazer uma campanha massiva sobre o tema. Um consenso entre as entidades é de que o novo modelo é mais indicado para estabelecimentos comerciais do que para residências, uma vez que grande parte das famílias concentram o consumo de energia durante o horário de ponta.

“Eu acredito que a Tarifa Branca é muito mais adequada para quem tem um escritório, ou um comércio que funciona durante o horário comercial. Esse (perfil) tem uma vantagem sem necessidade de fazer uma mudança de hábitos. O consumidor residencial, eu tenho dúvida. As pessoas não ficam em casa durante o dia. Elas trabalham e voltam à noite, então o horário de maior consumo delas é o de ponta”, avalia Nelson Leite.

*Considerando a média dos últimos 12 meses.