Disparada no preço spot da energia já inviabiliza migração para mercado livre

Disparada no preço spot da energia já inviabiliza migração para mercado livre

“A gente acredita fortemente que vai ter pelo menos bandeira amarela nos próximos três meses, podendo ter bandeira vermelha já em abril”, diz Laudenir Pegorini

Uma disparada neste ano nos preços spot de energia elétrica, ou Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), já tem inviabilizado a migração de alguns consumidores para o mercado livre de energia, onde grandes consumidores podem negociar contratos de suprimento diretamente com geradores ou comercializadoras.

O preço spot é utilizado para negociações de curto prazo, mas influencia as cotações de contratos de maior duração no mercado livre. Neste ano, o PLD do Sudeste saltou 132 por cento desde uma mínima registrada na segunda semana de janeiro, enquanto o PLD do Nordeste subiu 208 por cento na mesma comparação.

Com isso, empresas que se preparavam para migrar para o mercado livre, mas ainda não tinham garantido a contratação de energia estão voltando atrás, disse à Reuters o diretor da comercializadora de eletricidade Energética, Laudenir Pegorini.

“Cerca de 20 por cento desses consumidores estão pedindo às distribuidoras para postergar a migração porque o preço está muito alto”, disse.

Como alternativa, segundo Pegorini, a Energética tem tentado convencer os clientes a entrar no mercado livre com contratos mais longos, de até cinco anos, que são menos sujeitos a subir por influência do PLD.

O presidente da comercializadora Comerc, Cristopher Vlavianos, também avalia que não está valendo a pena migrar neste momento.

“Se você pegar um preço desse de energia (patamares atuais) não vale a pena migrar. Começa a valer a pena migrar ano que vem, aí o preço vai dando uma reduzida. Você não faria uma migração para começar em 2017 com esses preços de energia que estão no mercado”, disse Vlavianos.

O executivo disse que em 2016, quando o consumo de eletricidade estava em queda, os preços no mercado livre chegaram a cair tanto que a migração proporcionava descontos de 30 a 40 por cento em relação ao custo da eletricidade na distribuidora.

“É um mercado cíclico… aquele foi o momento ideal de migração… algumas empresas que estão entrando agora no mercado já fizeram a contratação de energia, mas hoje você não tem mais a mesma condição de preço… tem uma diferença muito grande”, afirmou Vlavianos.

 

BANDEIRA VERMELHA

Os preços spot da eletricidade também influenciam o custo para os consumidores cativos, atendidos pelas distribuidoras, uma vez que PLDs elevados levam ao acionamento de bandeiras tarifárias amarela ou vermelha, que elevam o custo das contas de luz.

Atualmente, a bandeira está amarela, mas ela poderá ficar vermelha se a projeção ao final desse mês for de PLD acima de 422 reais por megawatt-hora em qualquer região do Brasil.

Os preços spot do Nordeste já estão há duas semanas em quase 427 reais por megawatt-hora para os patamares de carga médio e pesado.

“A gente acredita fortemente que vai ter pelo menos bandeira amarela nos próximos três meses, podendo ter bandeira vermelha já em abril”, disse Pegorini.

O diretor de Regulação da comercializadora Safira, Fabio Cuberos, avalia que o cenário de chuvas fraco no período úmido, que termina no final de março, vai pressionar as bandeiras.

“Está bem no limiar… não me espantaria se saíssemos de amarela e fôssemos para vermelha já em abril. Em maio, sim, aí realmente já é esperado que haja bandeira vermelha, a não ser que abril venha muita chuva, o que não é a expectativa”.