Eletrobras tem prejuízo de R$ 1,6 bilhão no terceiro trimestre

Eletrobras tem prejuízo de R$ 1,6 bilhão no terceiro trimestre

Distribuidoras de energia do Norte e Nordeste contribuem com perda de R$ 998 milhões

A Eletrobras registrou um prejuízo líquido de R$ 1,613 bilhão no terceiro trimestre do ano, contra o lucro líquido de R$ 550 milhões registrado no terceiro trimestre do ano passado. As seis distribuidoras de energia do Norte e Nordeste contribuíram mais uma vez para o resultado negativo com uma perda total de R$ 998 milhões. A companhia, holding do setor elétrico, divulgou o resultado de seu balanço do terceiro trimestre do ano na madrugada desta terça-feira.

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No período, compreendido de julho a setembro, os segmentos de Geração e Transmissão apresentaram lucro de R$ 2,518 bilhões e R$ 1,629 bilhão, respectivamente. Já o segmento de Distribuição também contribuiu negativamente para o resultado, registrando prejuízo de R$ 998 milhões no terceiro trimestre.

Segundo a companhia, em comunicado ao mercado, o resultado foi impactado principalmente pelas provisões não recorrentes para contingências, no montante de R$ 2,201 bilhões, destacando-se R$ 1,518 bilhão relativos a empréstimos compulsórios.

Com o resultado negativo no terceiro trimestre, no acumulado de nove meses do ano, a companhia acumula um lucro líquido de R$ 1,275 milhão. No ano passado, de janeiro a setembro, a Eletrobras acumulou um lucro R$ 2,272 bilhões.

No acumulado do ano, os segmentos de geração e de transmissão apresentaram lucro de R$ 832 milhões e R$ 103 milhões no período, respectivamente. A estatal informou que tem ainda R$ 2,8 bilhões de passivo a descoberto, referentes à venda das quatro distribuidoras Cepisa, Ceron, Boa Vista Energia e Eletroacre, que poderão ser revertidos no quarto timestre deste ano.

Sob o ponto de vista operacional, a Eletrobras agregou, neste ano, cerca de 222 quilômetros de linhas de transmissão e 828 MW de capacidade instalada em geração.

Distribuidoras e “cotização”

Na avaliação de Érico Garcia de Brito, sócio e gerente de assuntos regulatórios da Excelência Energética, é importante dar sequência ao processo de desestatização das distribuidoras de energia.

— Felizmente, a maioria já foi desestatizada, mas ainda faltam as distribuidoras do Amazonas e de Alagoas. Essas empresas são altamente deficitárias e foram um ônus assumido pela Eletrobras.

Brito pontua que somente o fato de a Eletrobras não ser mais responsável pelas distribuidoras não é a única maneira de a empresa reverter o cenário de perdas. Ele ressalta que é importante reverter o sistema de “cotização”.

— A Eletrobras ficando nas mãos do governo ou sendo privatizada precisa reverter o processo de “cotização” da energia. Isso ajudaria nas finanças da empresa.

Neste regime de cotas, a tarifa cobre apenas custos de operação e manutenção das usinas. Caso ele seja revertido, a energia poderia ser revendida a preços maiores no mercado.

Já para o professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da UFRJ, o sistema de cotas não foi tão prejudicial para o resultado negativo do terceiro trimestre.

— Se analisarmos geração e transmissão, a Eletrobras registra lucro. Sendo assim, essa (“cotização”) não é o grande problema que causou o prejuízo no período.

Castro pontuou que o resultado negativo tem como causas as distribuidoras do Norte e Nordeste, as quais, segundo o professor, são fontes constantes de prejuízo.

— A Eletrobras não tem experiência nem capacidade para administrar a distribuição da energia. Sendo assim, as distribuidoras, que já tinham prejuízo, continuam com esse comportamento e impactam negativamente o balanço do grupo Eletrobras.

Embora a empresa tenha apresentado lucro no segundo trimestre deste ano, Thais Prandini, diretora Executiva da Thymos Energia, diz que a comparação com os três meses anteriores não é válida.

— No segundo tri houve um acerto contábil. Desta forma, a elétrica recebeu uma receita extra, o que contribuiu para que o balanço não fosse ruim. Neste trimestre, entretanto, isso não aconteceu.

A receita extra veio a partir do reconhecimento das tarifas das distribuidoras do Norte e Nordeste, controladas pela Eletrobras, e cujos resultados negativos eram bancados pela estatal.

Em julho deste ano, uma portaria do Ministério de Minas e Energia garantiu a neutralidade econômica das distribuidoras em processo de privatização, o que fez com que a Eletrobras deixasse de arcar com os prejuízos das mesmas, e ao mesmo tempo ter o ressarcimento com as perdas na operação das empresas.

Thais relembra que, mesmo com quatro distribuidoras atualmente desestatizadas, elas passaram grande parte do terceiro trimestre sob a responsabilidade da Eletrobras.