Excesso de energia também traz problemas

Excesso de energia também traz problemas

Em poucos meses, graças ao regime pluviométrico benigno, mudou radicalmente o cenário da oferta de energia elétrica.

Há sinais generalizados de sobra de energia, com a exceção da Região Nordeste.

Na semana passada, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a situação dos reservatórios era extremamente favorável na Região Sul (com 98,17% de energia armazenada), satisfatória nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste (55,43%) e Norte (49,81%), sendo desfavorável apenas no Nordeste (33,34%).

Recuperada a oferta, o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) relativo ao período de 11 a 18 de março, que é o valor a ser pago pelas distribuidoras que compraram menos energia do que de fato necessitaram, caiu 41% em relação à semana anterior nos subsistemas Sul, Sudeste-Centro-Oeste e Norte, para R$ 30,58 o MWh; no Nordeste, subiu 8%, de R$ 240,34 para R$ 259,26 o valor do MWh.

Há três meses, quando as chuvas já estavam favoráveis, o PLD do Sudeste-Centro-Oeste era de R$ 110,10.

O aumento da oferta é positivo para o sistema elétrico e afasta o risco de colapsos tão temidos pelo governo por seus impactos políticos.

Mas a política de modicidade tarifária introduzida em 2013 e abandonada dois anos depois deixou tantas sequelas que os benefícios das chuvas parecem menos importantes para as companhias do setor.

Sem investimentos e sem chuvas, o País dependeu até meados de 2015 da energia cara das termoelétricas.

Hoje, estas vão sendo desativadas, mas restaram custos.

Há inadimplência na liquidação financeira das operações no mercado de curto prazo.

Em dezembro, a inadimplência atingiu quase 78%. Os devedores valem-se de liminares para não pagar ou adiar pagamentos.

Geradoras não recebem o contratado.

As distribuidoras têm sobra de energia de 11%, segundo o Estado.

Calcularam mal a demanda e pagam caro pelo erro.

A preocupação da Aneel é evitar mais prejuízos.

Em contrapartida aos prejuízos de empresas elétricas, consumidores de porte migram em ritmo crescente para o mercado livre, onde podem adquirir eletricidade pagando menos do que no mercado regulado.

Diretores da Associação Brasileira de Comercializadores de Energia Elétrica (Abraceel) calculam que a diferença entre os preços do MWh nos mercados regulado e livre podem atingir, em média, mais de 40%.

São sinais do desequilíbrio da política energética.

Fonte: O Estado de S Paulo 26/03/2016