Inovação no setor elétrico no País terá início na distribuição

Inovação no setor elétrico no País terá início na distribuição

MUDANÇA

Diferente do desenvolvimento visto nas últimas décadas, a tecnologia deve ingressar no setor pelo elo da cadeia ligado ao consumidor final e a regulamentação não será um entrave.

O avanço de novas tecnologias no setor elétrico se dará cada vez mais pela cadeia de distribuição, mesmo com a atual falta de recursos das companhias do segmento para investir, avaliaram especialistas ouvidos pelo DCI. Com a rentabilidade das distribuidoras cada vez mais pressionada pelas migrações ao mercado livre e, no médio prazo, com o avanço da geração distribuída no Brasil, o setor caminha para uma transformação nos próximos cinco anos. “A cadeia do setor está mudando, com o valor sendo transferido para a parte da cadeia mais próxima do consumidor final. ”, afirma a vice-presidente global de utilities da CGI, Ana Domingues. Para ela, temas ainda em discussão no Brasil, como o avanço dos grandes parques eólicos, já não são mais o centro dos debates nos países europeus, que têm voltado cada vez mais a agenda da energia para o consumidor final. Segundo Ana, as tradicionais companhias de energia, não apenas no Brasil, estão perdendo cada vez mais receita. Mas as mudanças no setor são uma oportunidade, que já vem sendo incorporada nos planos das distribuidoras, que querem ser cada vez mais rentáveis. Já que a tecnologia abre espaço para inúmeros ganhos de operação. “As companhias de distribuição também querem ter um papel mais relevante para a sociedade e atrair mais receitas reconhecidas pelo regulador”, diz ela. Como exemplos dessas oportunidades, a executiva cita a oferta de outros serviços à base de clientes das distribuidoras e a coleta, análise e execução de negócios a partir dos dados de consumo da distribuidora. A CGI, que fornece serviços de tecnologia da informação para o setor elétrico, já oferece soluções para diferentes aplicações do uso de banco de dados, medidores inteligentes de energia e controle de redes do setor.

Barreiras

No entanto, os recursos para financiar a adoção das tecnologias, como as redes inteligentes (smart grids) ainda são um desafio. “As distribuidoras já estão perdendo receita muito rápido, haja vista o desinteresse de investidores no segmento”, cita o vice-presidente de serviços da consultoria da CGI, Marcos Saltini. Na avaliação do presidente da consultoria Thymos, João Carlos Mello, a principal barreira para as smart grids é a falta de um plano de negócios bem estruturado que justifique o elevado aporte. “Não adianta achar que smart grid é algo interessante, se as distribuidoras não têm dinheiro para isso, embora a mudança possa trazer alguma receita. Mas acho que a decisão de promover isso tem que partir do governo, além de decidir como esse investimento será pago”, diz ele. Os especialistas ouvidos pelo DCI concordam que o financiamento é um entrave, mas o modelo mais viável deve incluir o pagamento dessas tecnologias, mesmo que parcial, via tarifa. “Acredito que, em última instância, o consumidor possa pagar por isso [smart grids], mas em transmissão há uma expectativa de indenização que pode ajudar”, pontua o vice-presidente da ABB, José Paiva. Apesar dos desafios, o executivo Marcos Saltini vê o movimento recente de consolidação do setor como uma oportunidade para investimentos. “Estamos vendo grandes players internacionais entrando [no País] e a expectativa quanto aos futuros leilões da Eletrobras”, afirma o executivo da CGI. A regulação, outro fator decisivo para os avanços do setor, não preocupa tanto os especialistas. Se não acompanhar as mudanças tecnológicas, as próprias mudanças do setor tendem a atropelar as regras. “O risco regulatório do avanço dessas tecnologias é conhecido e o que se espera é que as regras avancem antes dos efeitos negativos aparecerem”, comenta o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales. No curto prazo, o especialista acredita que pequenos ajustes nas regras, para dar mais flexibilidade aos aportes feitos pelas distribuidoras, possam ajudar na modernização do setor.

Cadeia

Com as mudanças na distribuição e a formatação de novos modelos de negócios, a entrada de tecnologias em transmissão e geração será uma questão de tempo, observam as fontes. “O desafio das distribuidoras é maior, mas eu não descartaria mudanças na geração, porque ainda vemos muitas companhias entrando no Brasil e, outras também se posicionando em micro geração e armazenamento de energia”, complementa Marcos Saltini, da CGI. A transmissão tende a sofrer com as mudanças tal qual as distribuidoras, avalia Mello, da Thymos. “A carga de energia será cada vez mais ativa, mas é um movimento de mudança em volume de energia e investimentos que tende a acontecer em diferentes tempos para cada região do País”, acredita ele. Paiva, da ABB, aposta na oferta de novas tecnologias da geração à distribuição, mas destaca as oportunidades na segurança de dados. “Antes o sistema de geração elétrica era concentrado e a transmissão também, mas hoje falamos de sistemas que são interligados com a geração distribuída, solar e eólica. Tudo isso traz uma exigência maior por inteligência para manter a estabilidade do sistema e garantir a segurança das informações”, comenta ele.