Investimentos em pesquisa no setor de petróleo e gás crescem 66%

Investimentos em pesquisa no setor de petróleo e gás crescem 66%

Relatório anual compara dados de 2017 com os de 2018

Os investimentos destinados às pesquisas de desenvolvimento e inovação do setor de petróleo e gás no Brasil, registraram aumento de 66% nos recursos aplicados de 2017 para 2018. Passaram de R$ 1,2 bilhão para R$ 2 bilhões no ano passado. Os dados constam da 4ª edição do Anuário da Indústria de Petróleo no Rio de Janeiro: Panorama 2019, divulgado hoje (7), pela Federação de Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e elaborado com base, principalmente, em dados nacionais divulgados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Já os dados internacionais foram obtidos da U.S Energy Information Administration (EIA) e do BP Statistical Review da empresa BP (British Petroleum). O anuário traça um panorama do setor de petróleo e gás e aponta perspectivas.

Os recursos em pesquisas de desenvolvimento e inovação podem ser ampliados nos próximos anos. De acordo com a diretora-geral da Organização Nacional da Indústria de Petróleo (ONIP) e com a gerente de Petróleo, Gás e Naval da Firjan, Karine Fragoso, estudos do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) indicam que até 2025 devem ser aplicados no país mais de R$ 30 bilhões em pesquisas de desenvolvimento e inovação. “Esses recursos e essa ferramenta de desenvolvimento de pesquisas, principalmente, a partir do Brasil, vai ser fundamental para a nova cara do setor”, disse em entrevista à Agência Brasil.

“Está sendo construído um ambiente com grandes possibilidades de a gente dar um salto tecnológico a partir desses recursos aplicados de fato em pesquisas e inovação”, completou.

Royalties

O anuário aponta ainda, que no mesmo período de comparação, houve aumento de 42% na geração de royalties para municípios, estados e para o Brasil. Já nas participações governamentais, que além dos royalties incluem a participação especial, paga por campos maiores de produção, o Rio de Janeiro registrou aumento 63% nessa arrecadação. Segundo a gerente, os campos considerados gigantes como os do pré-sal, permitem ao estado ter um volume maior de arrecadação. Karine acrescentou que um dado pré-crise financeira do Rio apontava que 30% do PIB estadual derivam do mercado de petróleo e gás. Portanto, não só os royalties, mas toda a movimentação, a atividade econômica advinda desse mercado é fundamental para o Rio de Janeiro. A perspectiva é manter o crescimento.

“A gente também prevê um aumento bastante significativo nos próximos seis anos. A gente continua nessa rota de crescimento nas participações governamentais, sejam elas por royalties ou especiais ”, disse.

Reservas

A declaração de ativos de comercialização, que são as reservas provadas do Rio de Janeiro, também registrou crescimento. De 2017 para 2018 subiu algo em torno de 5%, o que vai contribuir para a produção nacional de petróleo e de gás. “Quer dizer, a gente amplia o potencial de produção a partir do Rio de Janeiro”, comentou.

Empregos

O governo do Estado do Rio de Janeiro reconheceu a queda acentuada, nos últimos anos, da atividade industrial fluminense, especialmente, nas relacionadas aos setores de petróleo e naval. O relatório apontou, entre os fatores, a queda no preço das commodities, a crise energética e o desenrolar das investigações da Operação Lava Jato, além de um período de instabilidade política, que culminaram em uma crise generalizada na economia de todo o país e em decorrência no estado. Um dos reflexos deste cenário foi a queda no nível de empregos. “Esse efeito afeta não só aqueles que trabalham na área, mas também o comércio, a rede hoteleira, profissionais liberais e diversos setores envolvidos em atividades de suporte a essa indústria”, afirmou o governo do estado.

Conforme os dados do anuário, no ano passado, a queda de empregos foi notada, principalmente, na área de Exploração e Produção (EP) e ainda sentida nos últimos anos. De 79 mil em 2017, caiu para 78 mil em 2018. O coordenador de Conteúdo Estratégico da gerência de Petróleo, Gás e Naval da Firjan, Thiago Valejo Rodrigues, informou que o panorama deve mudar em 2019. “O que se vê em 2019 são anúncios de muitas vagas de empresas contratando e a expectativa é que a gente tenha essa reposição e volte a gerar empregos como antes de entrar em crise”, relatou.

Rodrigues chamou atenção que este mercado é muito especializado e por isso exige profissionais com categorias específicas. “O anuário traz esses números. Se somar as profissões que pedem ensino superior, ou mestrado ou doutorado a gente chega a 40% do total comparado a outras profissões. Se olhar por elo da cadeia produtiva com exceção do segmento de exploração e produção, todos os outros subiram comparando 2017 com 2018”, disse

Brasil

De acordo com a análise do economista-chefe da BP, Spencer Dale, com dados do artigo sobre a participação do Brasil no mercado de petróleo e seu papel na transformação energética para a U.S. Energy Information Administration – EIA e da BP Statiscal Review em 2018, o Brasil foi o 10º maior produtor de petróleo, 2º em biocombustíveis e 7º em geração de energia renovável. As avaliações do setor indicam que até 2024, o Brasil será a 2ª maior fonte de crescimento de produção de petróleo fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

A produção de energia no Brasil se divide em 46% para petróleo; 39% não fóssil, hidrelétrica e renováveis; e 15% em gás e carvão. A estimativa, conforme aponta o anuário, é de que até 2040, deve ser de 50% a participação de energias hidrelétricas, renováveis e nucleares. Até 2024, o Brasil será a 2ª maior fonte de crescimento de produção de petróleo fora da OPEP. A capacidade instalada eólica aumentou 17%, atingindo 14 GW e a da energia solar subiu mais de 100%, alcançando 2,3 GW.

Pelos cálculos da Associação Brasileira de Empresas de Serviços de Petróleo (Abespetro), nos próximos 10 anos, em áreas já contratadas de produção serão gerados mais de R$ 2 trilhões em investimentos em Exploração e Produção (E&P), o que deve gerar R$ 480 bilhões em royalties e participações especiais até 2054.

A entidade comemorou a entrada em funcionamento, nos próximos anos, de 20 novas plataformas do tipo FPSO, mantendo a média de três por ano, o que significa 35% da demanda mundial. “Isso merece atenção e a gente espera que também gere emprego no estado do Rio de Janeiro”, defendeu em entrevista à Agência Brasil a ex-diretora-geral da ANP e consultora da FGV Energia, Magda Chambriard.

“O pré-sal já está dando dinheiro em caixa, fora royalties, participação especial, fora óleo lucro. Tudo isso é sinal inequívoco de que a atividade está retomando”, concluiu Magda Chambriard.

Redução de custos

Outro fator que favorece o setor é a redução de custos, aponta o anuário. “Foi feito um grande esforço com foco na redução de custos e na busca pela máxima eficiência e resultados. Em poucos meses, o custo da produção por barril do Campo de Polvo (Bacia de Campos) caiu de US$ 86 para menos de US$ 30, tornando a produção muito mais eficiente e gerando resultados positivos para a companhia”, apontou em texto elaborado para o Anuário.

Refino

Em texto produzido para o anuário, a Petrobras ressaltou a importância do sistema de desinvestimentos em andamento na companhia, que entre outros pontos, determina a venda de oito refinarias, para reduzir a presença da empresa neste segmento. “O Programa de Reestruturação de Negócios de Refino contribuirá para dinamizar o mercado de derivados de petróleo no Brasil, com a participação de novos atores, mais investimentos, principalmente em infraestrutura logística, inovação, melhores níveis de serviço e produtos de melhor qualidade e preços”, observou.

Previsibilidade

Ainda no Anuário, a ANP destacou uma reivindicação antiga do mercado, que era o calendário das rodadas que tornou-se realidade. Agora, é possível ver no site da agência reguladora a lista das rodadas previstas para 2019, 2020 e 2021 (6ª, 7ª e 8ª de partilha e 16ª, 17ª e 18ª de concessão, além do leilão de excedentes da Cessão Onerosa) com as bacias e os setores já definidos ou em estudos. Isso, no entendimento da ANP, amplia, consideravelmente, o prazo para as empresas avaliarem as áreas, escolherem seus alvos e fazerem o planejamento adequado.

Para a ANP, a abertura do setor do gás vai mudar o panorama da participação do gás na matriz energética brasileira. Em abril, a ANP fez audiência pública sobre a minuta do edital da chamada pública para contratação da capacidade no gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol). Pela primeira vez, todos os agentes carregadores terão condições isonômicas de participação, acabando com o monopólio da Petrobras nessa operação. O Gasbol é o maior gasoduto brasileiro. Ele foi responsável pelo aumento da participação do gás na matriz energética brasileira, que passou de 3%, em 1999/2000, para cerca de 13% atualmente.