Mário Menel, da Abiape: Autoimportação de gás e GNL será nova fronteira da reindustrialização

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Mário Menel, da Abiape: Autoimportação de gás e GNL será nova fronteira da reindustrialização

Executivo diz que a integração entre os setores elétrico e de gás vai exigir maior coordenação entre órgãos do governo. Abiape estará presente no 16º Enase, que ocorre nos dias 28 e 29 de agosto, no Rio de Janeiro

Após o anúncio das diretrizes para a abertura do mercado do gás natural no Brasil, indústrias intensivas em energia já se preparam para novas oportunidades de negócios e o choque de preços anunciado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Para aqueles que produzem energia elétrica para consumo próprio, há muita expectativa em relação à entrada de projetos termelétricos de baixo custo na matriz, e tanto a autoimportação de gás natural quanto a importação de Gás Natural Liquefeito a preços competitivos são vistas “como a nova fronteira para reindustrialização destes segmentos”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia, Mário Menel.

“Para isso, no entanto, é necessário que o novo desenho do mercado de gás assegure a liberdade do autoprodutor/autoimportador construir e operar seus próprios dutos de uso exclusivo, sem contrapartidas. Afinal, não se trata da prestação de um serviço de gás canalizado”, observa Menel, em entrevista à Agência CanalEnergia.

O executivo admite que a interação entre o setor elétrico e o de gás ainda é pontual, mas há potencial para que isso se multiplique, o que vai exigir maior coordenação entre os diferentes órgãos e departamentos do governo. Sinais econômicos adequados para aproveitamento da sinergia entre os dois setores no atendimento à carga serão o grande desafio do planejador.

As medidas de modernização do setor elétrico em discussão no governo também terão que considerar a importância dessa interface, na tomada de decisões sobre temas como critérios para despacho e flexibilidade do despacho termelétrico, entre outros, segundo Menel. O executivo será um dos debatedores do 16º do Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico (ENASE), promovido pelo Grupo CanalEnergia/Informa Markets em parceria com 20 associações do setor. O evento marcado para os dias 28 e 29 de agosto, no Rio de Janeiro, terá como novidade o ENASE Gás, que vai discutir o mercado de gás natural no país.

Agência CanalEnergia: Como os autoprodutores de energia elétrica veem as oportunidades criadas com a proposta de abertura do mercado do gás natural no Brasil?

Mário Menel: Com a abertura do mercado de gás, espera-se atrair novos players, mitigar gargalos estruturais e, por meio de pressões competitivas, reduzir o preço final do energético. Neste contexto, os autoprodutores de energia elétrica, que em geral são indústrias de segmentos energointensivos, enxergam uma grande oportunidade para ampliar seus negócios, tornando-se mais competitivos nos mercados em que atuam, gerando emprego e renda para o país. Adicionalmente, a abertura de mercado possibilitará a entrada de projetos termelétricos de baixo custo variável na matriz elétrica brasileira, o que poderá ser interessante para o portfólio de geração do autoprodutor.

Agência CanalEnergia: Como esse novo mercado casa com as necessidades da indústria, especialmente da indústria intensiva em energia? Haveria interesse em autoimportação de gás natural para uso no processo industrial ou na produção de energia elétrica?

Mário Menel: A indústria intensiva em energia está sempre em busca de bons negócios que propiciem o travamento de custos e garantia de suprimento energético no longo prazo. Neste sentido, a autoimportação de gás natural e de GNL a preços competitivos é vista como a nova fronteira para reindustrialização destes segmentos. Para isso, no entanto, é necessário que o novo desenho do mercado de gás assegure a liberdade do autoprodutor/autoimportador construir e operar seus próprios dutos de uso exclusivo, sem contrapartidas. Afinal, não se trata da prestação de um serviço de gás canalizado.

Agência CanalEnergia: Como pode ser feita essa interação entre o setor elétrico e o de gás?

Mário Menel: A interação entre os setores hoje ainda é pontual. Citamos, por exemplo, o programa “Gás para Crescer” que identificou e encaminhou soluções específicas que vinham de longa data, tais como a adequação da cláusula de penalidade por não suprimento de gás e a adoção de horizonte rolante para comprovação de reservas para participação em leilão de energia nova. No entanto, em um cenário de expansão do mercado de gás, as faces de integração entre o setor elétrico e o setor de gás serão multiplicadas, o que exigirá o fortalecimento da coordenação entre os diferentes órgãos e departamentos do governo que trabalham nesses setores. Sobretudo, cabe ressaltar o desafio do planejador em promover os adequados sinais econômicos para que o atendimento a carga seja feito de forma a aproveitar a sinergia entre energia elétrica e gás natural.

Agência CanalEnergia: Como as medidas de modernização do modelo do setor elétrico podem contribuir para essa integração?

Mário Menel: Com a ampliação do mercado de gás, será fundamental que as medidas de modernização do setor elétrico levem em consideração a importância da coordenação entre os diferentes órgãos e departamentos do governo para resolver dilemas como os critérios para despacho termelétrico considerando a carga discreta de GNL, a flexibilidade do despacho termelétrico, entre outros. E, ainda, a valoração correta dos atributos de cada fonte componente de nossa matriz

Agência CanalEnergia: Que questões são estratégicas na discussão desse novo modelo para melhorar o ambiente de negócios?

Mário Menel: Para melhorar o ambiente de negócios é importante que o novo modelo do setor elétrico promova uma alocação adequada de custos e riscos entre os agentes, prezando pela transparência, previsibilidade, estabilidade jurídica e regulatória. Nesse contexto, é fundamental que sejam preservados os contratos legados, e quando aplicável, sejam definidas regras claras e bem desenhadas de transição.

Agência CanalEnergia: Como os investidores em autoprodução se situam nessa discussão?

Mário Menel: Os investidores em autoprodução associados da Abiape foram favoráveis às propostas do novo modelo setorial resultado da CP 33. No momento, a associação está em contínua conversa com o Ministério para ajudar a desenvolver resultados no âmbito do grupo de trabalho formado em prol da modernização do setor elétrico.

Agência CanalEnergia: Que impactos a modernização do setor pode trazer para uma expansão sustentável da oferta de energia?

Mário Menel: Um dos grandes desafios da modernização do setor será o de assegurar a adequada expansão do sistema. Para que isso ocorra há necessidade de, por exemplo, separar lastro e energia e desenvolver metodologias para valorar corretamente os atributos de cada uma das fontes. Estes dois pontos são essenciais para garantir a financiabilidade, a segurança de suprimento e direcionar a expansão da oferta a um menor custo e em conformidade com as necessidades do sistema elétrico brasileiro. Adicionalmente, a modernização do setor terá o importante papel de preparar a matriz elétrica brasileira para recepcionar a inserção de novas tecnologias, como, por exemplo, o uso de baterias e o avanço da geração distribuída.

Agência CanalEnergia: Que desafios o futuro reserva para o planejamento e a operação do sistema, considerando as mudanças da matriz e os avanços tecnológicos?

Mário Menel: O aumento das fontes renováveis intermitentes e a inserção de novas tecnologias elevam o grau de incerteza quanto à capacidade de atendimento à carga no curto e longo prazo. No curto prazo, o desafio compete ao operador em aperfeiçoar seus instrumentos de previsão de carga e de geração, fazendo que mesmo em cenários mais complexos, a operação do sistema seja garantida ao menor custo. No longo prazo, por sua vez, o desafio consiste em aperfeiçoar os modelos de planejamento diante da nova realidade da matriz, na qual a expansão descentralizada será cada vez mais forte e na restruturação do MRE. Neste contexto, será exigida maior coordenação entre o planejamento e a operação.