Novos Negócios no Setor Elétrico ¹

Novos Negócios no Setor Elétrico ¹

O Setor Elétrico (SE) possui, basicamente, três características econômicas: (i) é uma atividade de infraestrutura fundamental para os países; (ii) envolve volumes elevados de investimento com longo prazo de maturação; e (iii) tem dois segmentos da sua cadeia produtiva – transmissão e distribuição – que são monopólios naturais.

 

A crise econômica mundial dos anos de 1980 levou a um processo de liberalização das atividades de infraestrutura e a privatização de empresas estatais. Assim, a responsabilidade pelos investimentos nestes setores foi gradativamente sendo assumida pelos agentes privados, tornando a Regulação Econômica necessária, seja para dar garantias aos investidores, seja para estabelecer tarifas justas.

 

Atualmente, o Setor Elétrico passa por uma revolução tecnológica de curso acelerado, quebrando paradigmas consolidados, impondo grandes desafios e abrindo novas oportunidades de negócio.

 

Esta verdadeira metamorfose tecnológica pode ser sintetizada por três D’s. O primeiro é a Descarbonização, pouco relevante para o Brasil, mas que é um dos principais vetores da transição energética sob o mantra ecológico e da segurança nacional de suprimento. O segundo é a Digitalização, um processo muito dinâmico em função da possibilidade concreta de ganhos de produtividade, recriando processos e exigindo novos produtos, inclusive com baixo Capex. E, por fim, a Descentralização, com exemplos da geração distribuída, dos veículos elétricos, dentre outros.

 

Os novos produtos e processos da revolução tecnológica do SE serão consumidos e processados principalmente nos espaços urbanos. Desta forma, as Utilities possuem uma dupla vantagem competitiva: são as mais qualificadas conhecedoras dos hábitos, características e especificidades dos consumidores e seus espaços físicos contratuais de concessão estão sob o regime de monopólios naturais.

 

Deste modo, abre-se para as Utilities uma grande oportunidade de novos negócios no mercado de energia elétrica vinculados aos novos produtos e processos da revolução tecnológica.

 

No Setor Elétrico Brasileiro (SEB), os sinais da percepção competitiva desta nova dinâmica podem ser evidenciados por alguns exemplos. A estratégia das Utilities de verticalizar seus investimentos em toda a cadeia produtiva – geração,

transmissão, distribuição e comercialização – possibilitando ganhos de sinergia e de escala sob a égide da holding. A preocupação com a inovação e as oportunidades de novos negócios a ela associadas têm ganhado destaque crescente no planejamento estratégico e, cada vez mais, com diretoria específica destes grupos econômicos. Outro exemplo são os prêmios pagos para ampliar a participação na cadeia produtiva do SEB, com destaque para o segmento de

distribuição.

 

Nestes termos, o Setor Elétrico Brasileiro, em função da participação crescente e consolidada de Utilities com forte e grande tradição no mercado internacional e nacional, será impactado por inovações tecnológicas que irão, de forma

gradativa, considerando a heterogeneidade do mercado e da sociedade brasileira, abrir a oportunidade de novos investimentos e benefícios aos consumidores. Nesta metamorfose, as Utilities terão um papel estratégico e

determinante caso saibam aproveitar as oportunidades dos novos negócios que estão surgindo.

 

1 Este artigo foi publicado pelo serviço de informação Broadcast da Agência Estado de São Paulo em 7 de novembro de 2018.

2 Professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do GESEL – Grupo de Estudos do Setor Elétrico.

3 Pesquisador sênior do GESEL.