Preço alto de energia incentiva indústria a poupar para vender excedente

Preço alto de energia incentiva indústria a poupar para vender excedente

Por Anna Flávia Rochas

SÃO PAULO, 13 Fev (Reuters) – O alto preço de energia de curto prazo tende a ser um incentivo para que a indústria, grande consumidora de energia, reduza suas atividades e aproveite o momento para obter ganhos com a venda de eletricidade excedente, afirmam representantes de comercializadores e consumidores de energia.

A venda de energia em momento de preços altos no curto prazo, caminho que as indústrias tendem a seguir, é um cenário que já favorece geradoras com sobra de energia.

O Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), que serve de base para os preços de energia de curto prazo, ainda está a 822,83 reais por megawatt-hora (MWh) nesta semana, teto regulatório determinado para o ano, para as regiões Sudeste e Centro/Oeste. Para Norte e Nordeste, o preço caiu, mas ainda se mantém alto.

“Com um PLD desse, há diminuição do consumo de consumidores eletrointensivos para aproveitar a alta… Isso tende a ocorrer”, disse o coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro.

Em momento de alto preço de energia, empresas consumidoras livres que já têm sobras no contrato podem obter ganhos com vendas no curto prazo. Outras, que não têm sobra, podem ainda resolver reduzir a produção para com as sobras obter mais ganhos em negociações com energia, desde que tenham flexibilidade para fazê-lo sem prejudicar compromissos com clientes.

Ainda, empresas que estão subcontratadas e teriam que contratar energia para manter o ritmo das atividades, também podem optar por diminuir o ritmo de produção a ter que contratar energia muito mais cara no mercado à vista.

“Pelo preço que a energia está hoje, qualquer redução de consumo, além de ajudar o país, ainda tem um efeito monetário”, disse o presidente da Comerc Energia, Cristopher Vlavianos. Há uma semana, quando o preço de energia de curto prazo atingiu o recorde, a Comerc, uma das principais gestoras e comercializadoras de energia do país, aconselhou seus clientes livres a reduzir o consumo de energia, para evitar a aquisição de necessidades adicionais e até aproveitar o benefício de sobras de energia.

Camila Schoti, coordenadora de Energia Elétrica da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), afirma essa prática pelas indústrias é comum nas condições atuais. “Isso é um tipo de prática inclusive adotada em outros países e independente de para quem está gerando ganho, o consumidor que está fazendo isso vai contribuir para o sistema”, disse.

Algumas empresas associadas à Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace) já estão realizando medidas de redução do consumo segundo o presidente da entidade, Carlos Faria. “As empresas estão aproveitando a oportunidade para, se puderem, reprogramar a carteira de pedidos e gastar menos energia…Tem que fazer um esforço para reduzir o consumo, evitando que tenha que contratar quantidades adicionais”, disse ele.

A entidade tem entre empresas associadas companhias de setores de produção de papel e celulose, alimentos e metais, mas Faria não comentou quais companhias estariam aproveitando o momento para comercializar sobras de energia.

PREÇOS

A maior parte dos consumidores industriais associados da Anace já possuem contratos de médio a longo prazos de energia, o que evita que tenham que contratar a preços no curto prazo, segundo Faria. Cerca de 60 por cento dos associados têm contratos para prazo acima de dois anos e 40 por cento deles, acima de quatro anos.

Mas quem tem energia disponível para a venda pode obter fortes ganhos, dependendo de quando fechou o seu contrato.

“Hoje os preços de energia estão girando em torno dos 400 reais por megawatt-hora (MW) para (contratos) pelo período de um ano. Comparativamente, no ano passado, estariam pagando cerca de 130 reais por MWh”, disse Faria.

Para contratos mais longos, com período de quatro anos, por exemplo, os preços estão saindo em cerca de 380 reais por MWh para o primeiro ano, 170 reais por MWh para 2015, e 130 e 125 reais por MWh para os anos seguintes, respectivamente, segundo Faria.

“O que a gente está pedindo aos associados é para não ficarem descontratados”, disse. Ele acrescentou que a Anace aconselha que os associados iniciem as negociações de energia com 10 a 12 meses de antecedência do final dos contratos para evitar preços altos.

O Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE) registrou aumento das operações na plataforma de negociação de energia em janeiro, sendo que a disparada do preço de energia no mês colaborou em parte para que isso ocorresse, segundo o presidente da empresa, Victor Kodja.

O volume de negócios na plataforma em janeiro foi de 275 milhões de reais — 30 por cento do que foi realizado durante todo o ano passado.

“Há uma oportunidade de mercado que é a tendência de alta de preço trazida pela falta de chuvas”, disse ele que considera que o aumento das negociações é também resultado das ações da BBCE para trazer mais agentes para a plataforma.

“O volume nosso de janeiro foi muito significativo e foi interessante pela quantidade de players novos operando”, disse ele, evitando citar nomes.

Para as geradoras, a expectativa de ganhos com vendas de sobras de energia é um dos motivos para explicar a alta das ações nos últimos dias. Desde o fechamento de 5 de fevereiro, Cesp e Cemig acumulam alta de 3,03 e de 5,25 por cento, respectivamente, enquanto o Ibovespa subiu 2,55 por cento no mesmo período.

br.reuters.com/article/idBRSPEA1D02S20140214

Fonte: sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014 11:56 BRST – Anna Flávia Rochas