Preço da energia “descolado” da realidade

Preço da energia “descolado” da realidade

O último verão apresentou o pior índice de chuvas dos últimos 90 anos, resultando agora em reservatórios com armazenamento pouco satisfatório para iniciar o período seco, que compreende os meses entre maio e novembro. O subsistema Sudeste/Centro-Oeste concentra 70% dos reservatórios do País e está registrando 32,91% de volume, índice baixo para enfrentar um semestre de pouca hidrologia. A situação só não é calamitosa porque o consumo de energia em 2021 cresceu bem menos que o previsto, por conta da crise sanitária.

Apesar da desaceleração no uso da energia, é urgente recuperar os reservatórios e preparar o sistema  para o período seco e para uma possível retomada da economia, que, quando obtida, resultará no aumento do consumo de energia. Para conseguir melhorar os níveis de água, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) tem acionado  a geração de usinas térmicas, mais caras, medida inevitável, e que implica em encargos e taxas extras na conta de luz dos consumidores.

Entretanto, na contramão das medidas emergenciais adotadas, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) não tem refletido o verão ruim deste ano e o período extremo enfrentado agora. Em fevereiro, o valor médio foi R$166/MWh, em março, mês  geralmente com alto índice de chuvas, mas que decepcionou este ano. A média de preços foi ainda menor: R$109/MWh. Abril registrou R$133/MWh. Neste mês de maio, o preço apresentou leve aumento, porém ainda sem refletir o cenário atual: R$207/MWh na primeira semana, R$192/MWh, na segunda, e R$214/MWh, na terceira.

Esses valores não desestimulam o uso de energia por parte dos consumidores, fator que pode levar a uma maior queda nos índices de armazenamento dos reservatórios e ao acionamento de mais usinas térmicas. É preciso revisar o modelo de precificação do PLD, pois está visivelmente descolado da realidade. Os valores do mercado de curto prazo precisam sinalizar a realidade operativa do sistema e contribuir para a solução, e não para o aumento do problema.

Com esse valor do PLD abaixo do que se esperaria para essa situação energética resulta em possível aumento de despesas na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), decorrente do pagamento dos Encargos do Serviço do Sistema e de Energia de Reserva. Com valores mais altos de PLD, os agentes que estiverem descontratados arcarão com tais custos, o que é mais justo para todos. Também o PLD mais elevado será, em boa parte das vezes, suficiente para o pagamento dos contratos de energia de reserva. Ou seja, tende a diminuir as despesas dos consumidores que estão 100% contratados.