Preços Horários – Desafios para sua implantação

Preços Horários – Desafios para sua implantação

Já que é a existência da rede que impõe, conforme uma das premissas básicas do processo de modernização do setor elétrico, a necessidade de maior granularidade temporal e espacial do preço, além de maior credibilidade na sua formação, com o máximo acoplamento possível da formação do preço com as decisões de operação

O texto da reportagem especial publicada no Portal CanalEnergia, PREÇO HORÁRIO: TER OU NÃO TER, EIS A QUESTÃO, apresenta a visão dos agentes do mercado sobre uma das questões centrais dentro do Projeto de Modernização do Setor Elétrico Brasileiro, a precificação horária. A evolução de uma visão abstrata do comportamento temporal da demanda, representada por patamares de duração de carga, para uma visão concreta desta, representada pelo seu comportamento cronológico, trará impactos importantes para os processos de planejamento da expansão, do planejamento e programação da operação e da comercialização. Esta evolução está muito bem caracterizada na figura a seguir, recortada do relatório apresentado pelo Grupo Temático – Critérios de Garantia de Suprimento – do GT Modernização do Setor Elétrico.

Esta visão cronológica da demanda com os preços associados será vital como sinal econômico indutor do comportamento do consumidor de energia elétrica ao longo do dia, estimulando-o a aumentar seu consumo nos momentos de excesso de oferta e reduzindo-o nos momentos de escassez. Adicionalmente, este sinal pode propiciar-lhe as informações para este, eventualmente, decidir por investir em geração distribuída e/ou tecnologias de armazenamento, ações voltadas para eficiência energética, gerenciamento pelo lado da demanda, dentre outros. Portanto, trata-se de um processo que poderá propiciar empoderamento ao consumidor.

Do lado da oferta as condições de atendimento visualizadas a partir desta visão, darão sinais econômicos claros para os investidores tomarem como referência para investir, por exemplo, em fontes geradoras para produzir energia elétrica, durante às 24 horas do dia, apenas durante algumas horas ou até mesmo em intervalos de tempo mais curtos. Além da decisão de investir em instalações para os serviços de apoio à operação do SIN, os chamados Serviços Ancilares.

Estes serviços serão cada vez mais importantes na medida em que crescerão as exigências por flexibilidade operacional do SIN, visando uma operação energeticamente eficiente e eletricamente segura e confiável. Seus custos dependerão de uma conceituação clara e precisa dos seus componentes, cuja remuneração para os respectivos investimentos ainda dependem das discussões no âmbito do projeto de modernização do setor elétrico conduzido pelo MME.

No texto da reportagem mencionada observa-se uma dúvida, que no momento da implantação deste processo de precificação não deveria existir, “com rede ou sem rede?”. Já que é a existência da rede que impõe, conforme uma das premissas básicas do processo de modernização do setor elétrico, a necessidade de maior granularidade temporal e espacial do preço, além de maior credibilidade na sua formação, com o máximo acoplamento possível da formação do preço com as decisões de operação. Esta premissa será indutora das decisões dos agentes tomadas em função de fatores locacionais, que ainda não foram conceitualmente definidos nem regulamentados.

Em um processo decisório como este, que exigirá atualizações diárias de um número grande de informações será imprescindível o uso de ferramentas analíticas com grau de precisão e tempo de processamento compatíveis com o objetivo pretendido, visualizar as perspectivas para os preços do mercado para o dia seguinte. Outra exigência será a redução do tempo de resposta das análises em função dos curtos intervalos de tempo disponíveis para a tomada de decisões neste horizonte, o dia seguinte. Além da integração entre as áreas energéticas elétricas e comercialização, formando equipes de natureza multidisciplinar com capacidade para integrar conhecimentos destas respectivas áreas.

As observações e comentários apresentados pelos agentes do mercado, que se manifestaram na reportagem mencionada, não parecem revelar maiores preocupações com o modelo DESSEM em si. O que percebe-se é uma certa preocupação com o seu o nível de detalhamento e a consequente necessidade da atualização de um número bastante elevado de informações, necessárias ao cotidiano da operação. Pois, quanto mais detalhadas as ferramenta analíticas mais cuidados são exigidos para o seu uso.

Cabe ressaltar que a experiência com a implantação e uso dos modelos NEWAVE e DECOMP não são referências apropriadas para comparação com a implantação e uso do modelo DESSEM. O primeiro, como todos sabem, é uma abstração do mundo real, o sistema equivalente, o segundo, embora represente de forma individualizada o sistema de geração, precisa de simplificações para poder levar em conta algumas restrições importantes do sistema de transmissão com impactos relevantes na diferença de preços entre submercados.