Reajustes nas alturas

Reajustes nas alturas

Conta de luz terá aumento de 11,52% na Light e de 9,72% na Enel

Tarifa da Light terá alta de 11,52%, e a da Enel, de 9,72%. Em 5 anos, luz subiu mais no estado do que no país

A conta de luz do carioca ficará mais cara. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou ontem uma alta de 11,52% para as tarifas dos consumidores residenciais da Light. O reajuste é mais um aumento no histórico de dispara da nos preços da energia. Nos últimos dez anos, a fatura paga pelo carioca mais que dobrou. De 2009 até agora, a tarifa da Light saltou 105,9%, percentual muito acima da inflação do período, de 71%. O histórico do reajuste para a empresa surpreendeu até o diretor da Aneel responsável pelo processo neste ano, Efraim da Cruz.

— Chama atenção e salta aos olhos. Não lembro de ter passado nenhum reajuste que tenha ficado tão acima dos índices inflacionários nos últimos anos —afirmou o diretor.

O consumidor padrão da Light, que gasta 200 kWh (quilowatts-hora) por mês, veria sua conta mensal aumentar R$ 17,27, passando de R$ 149,69 para R$ 166,96 com o reajuste, segundo cálculos da distribuidora.

A Aneel também aprovou um aumento para os clientes da Enel Distribuição Rio, que atende Niterói, Região dos Lagos e o Norte Fluminense. A alta será de 9,72%. Os reajustes entram em vigor na próxima sexta-feira para as duas empresas. Para os consumidores industriais da Light, o aumento médio será de 10,2%. No caso da Enel Rio, esse grupo de consumidores terá uma alta de 9,65% nas suas tarifas.

As contas de energia do consumidor do Rio de Janeiro têm subido acima da inflação e da média nacional das tarifas nesta década. Nos últimos cinco anos, as contas da Enel deram um salto de 75%. Já as tarifas da Light, nesse mesmo período, subiram 65%. Por outro lado, a inflação oficial e a média nacional ficaram bem abaixo desses percentuais. Enquanto o número do aumento médio para todo o país foi de 47%, a inflação do período medida pelo IPCA ficou em 32%.

A diretora da Aneel Elisa Bastos reconheceu que as contas de luz estão altas e afirmou ser preciso um esforço dos governos para baixar os preços:

—A gente tem que se comprometer como esforço de conter a alta das tarifas de energia elétrica. Isso é insumo básico para todas as atividades da sociedade. Esse esforço não pode ser só da Aneel, mas dos governos estaduais e federais.

Quando a conta chega ao consumidor, ele paga pela compra da energia (custos repassados às usinas), pela transmissão (custos da transmissora responsável pelo transporte da eletricidade) e pela distribuição (serviços prestados pela distribuidora), além de subsídios e impostos. Na tarifa da Light paga pelo cliente, 35,3% são para impostos; 30,5%, para compra de energia; e 12,3%, para encargos. Ficam com a distribuidora, de fato, 15,1% da receita.

Em razão do tempo seco, comprar energia ficou mais caro. A falta de chuvas e o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas registrados no ano passado contribuíram para a alta nas tarifas em 2019. Sem chuvas, foi preciso acionar mais termelétricas (que são mais caras que as hidrelétricas) para garantir o suprimento. Parte dessa conta adicional ficou para ser paga este ano.

— O custo de aquisição de energia está alto. Nós temos energia. O problema é o custo. Precisamos de ações concretas para reduzir o custo de energia — disse o diretor-geral da Aneel, André Pepitone.

Além disso, só de subsídios — que cobrem programas do governo no setor elétrico, como o Luz para Todos e descontos nas tarifas para usuários de baixa renda —, os clientes de todo o Brasil pagarão R$ 17 bilhões nas contas de luz em 2019. Tudo é repassado para as contas de luz.

Pesou ainda no reajuste da Light a alta dos custos de distribuição. A Light atende a 4 milhões de clientes localizados em 31 municípios do Rio de Janeiro, principalmente na região metropolitana.

IMPACTO DO FURTO DE ENERGIA

No caso da Enel, pesou na tarifa um novo cálculo de percentual de perdas não técnicas, que são os furtos de energia, os chamados “gatos”. Os percentuais foram decididos pela Aneel ontem. O órgão define para todas as empresas um índice de furtos e perdas considerado aceitável. Dentro desse índice, o valor das perdas é pago pelos consumidores. No caso da Light, as perdas, que são elevadas, já haviam sido incorporadas às tarifas dos usuários.

A Enel teve o valor das perdas recalculado agora porque seu ciclo de revisão tarifária acaba de ser concluído. As empresas alegam que não conseguem entrar em áreas de risco para fazer reparos na rede e fiscalizações de cobrança.

Representante do conselho de consumidores da Enel, Fabiano Silveira reclamou da alta das tarifas, durante a reunião da Aneel:

— Quanto maior for o reajuste, maior será a inadimplência, por conta da capacidade financeira do consumidor de arcar com sua fatura de energia. Estamos ficando incapacitados de pagar a nossa fatura.