Santander começa a operar com sua comercializadora

Santander começa a operar com sua comercializadora

A comercializadora do Santander fez suas primeiras operações de compra e venda de energia na semana passada, em mais um passo da inserção do banco no setor elétrico. “Faz parte da estratégia do banco oferecer um pacote completo, uma solução única para os clientes”, disse Rafael Thomaz, executivo sênior do banco e responsável pela área de comercialização.

A ideia é fidelizar os clientes, que podem tomar crédito do Santander para investir em projetos de geração (centralizada, de grande porte, ou distribuída, em projetos menores), ou encontrar condições adequadas para migrar para o mercado livre – aquele no qual o consumidor escolhe de quem comprar a energia.

O banco é um privados mais ativos do país em financiamento de projetos de energia, como eólicas, parques solares, termelétricas e centrais hidrelétricas. “A decisão abrir uma comercializadora é benéfica para nossa área, ficamos mais completos. Já temos cobertura boa em fusões e aquisições, em equity, e faltava esse ângulo final que é a comercialização”, disse Edson Ogawa, chefe da área de project finance do banco.

Com a comercializadora, poderá acessar consumidores finais de energia. Será possível, por exemplo, estruturar projetos de geração voltados para o mercado livre, com contratos de longo prazo de venda de energia. “Em projetos que sejamos assessores e o cliente busque vender parte da energia no mercado livre, teremos a comercializadora como uma alternativa”, disse Ogawa.

O foco é em consumidores finais, mas também serão feitas operações de compra e venda de energia para dar liquidez à unidade, que fica embaixo da Tesouraria do banco, explicou Thomaz. “Não temos meta de giro financeiro, buscamos rentabilidade”, disse. “Com a comercializadora, vamos fechar as pontas para os clientes, com todos os setores da economia dentro do banco, atacado e varejo”, disse Karine Siqueira Bueno, superintendente executiva de desenvolvimento sustentável do Santander. Karine tem atuação próxima da dos executivos do setor elétrico. “Como o banco alavanca negócios, a agenda tem que parar de pé para todos. Nós conectamos as pontas e oferecemos a solução completa para o cliente”, disse ela.

Segundo Ogawa, nos últimos anos, o mercado livre tem ganhado espaço, e em 2018 vários projetos de geração foram viabilizados para este ambiente de contratação, o que antes era impensável. “Tiramos o foco do mercado regulado [das distribuidoras], que estava bastante ruim com leilões pequenos”, disse. O problema no mercado livre é que é necessário haver contraparte de menor risco.

A característica do banco deve ajudar a comercializadora a avançar como varejista, uma categoria criada para agrupar vários consumidores pequenos no mercado livre mas que acabou não ganhando espaço por causa dos riscos de crédito. Como energia é um insumo importante, as empresas temem que consumidores inadimplentes consigam decisões judiciais impedindo seu desligamento da rede, deixando o custo todo com a comercializadora varejista.

“Ter uma comercializadora varejista faz todo sentido para um banco de varejo, temos análise de crédito robusta e contamos com outros instrumentos de garantia”, disse Thomaz. Segundo ele, a empresa já está “na fila” para obter autorização da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para atuar como varejista.

Anunciada em outubro, a comercializadora obteve autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para atuar em novembro, mas o aval da sede na Espanha só saiu em março, o que explica a demora no início das operações. “Depois disso, apenas afinamos os processos”, disse Thomaz. Para ele, esse primeiro ano de atuação será importante para que o banco entenda melhor o negócio.

Para maio, a expectativa “conservadora” é de que a comercializadora gere um volume de negócios de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões, mas há operações grandes na fila que podem sair e superar de longe esses valores. “Ainda é cedo para falar de volume no ano, estamos sendo muito cautelosos”, afirma Thomaz. Como diz que a análise de crédito é “robusta e criteriosa”, a ideia não é acelerar as operações, “mas criar um negócio sustentável de longo prazo e com uma base sólida.”