TCU determina retirada de subsídio bilionário na conta de luz, o que pode reduzir tarifa para o consumidor
BRASÍLIA — A profusão desubsídios e encargos embutidos nas contas de luz virou alvo do Tribunal de Contas da União (TCU). Cerca de 10% das tarifas pagas pelos consumidores de todo o país são encargos embutidos na conta. Uma auditoria do órgão considerou irregular parte desse total.
O TCU questiona os descontos na conta que são dados para produtores rurais, empresas de irrigação e companhias de saneamento. Esses descontos acabam sendo pagos por todos os outros consumidores. Para o tribunal, os benefícios nada têm a ver com o setor elétrico. Por isso, se o governo quiser mantê-los, o TCU determinou que ele terá de tirá-los da conta de luz e incluí-los no Orçamento da União a partir de 2020.
‘Medidas de favorecimento’
Somente em 2017, os três subsídios pagos por todos os consumidores somaram R$ 4 bilhões. O gasto entre 2013 e 2017 ficou em R$ 17,5 bilhões, considerando os que são destinados a produtores rurais, irrigação e aquicultura, e água, esgoto e saneamento. Isso corresponde a cerca de um quarto do total de gastos previstos com a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) no período, que contabiliza todos os tipos de subsídios do setor.
O Congresso já chegou a discutir a retirada do subsídio na conta de luz para produtores rurais no início do ano, o que motivou um embate entre os ministérios da Economia e da Agricultura. O benefício havia sido revogado num decreto do ex-presidente Michel Temer, mas o subsídio acabou mantido após forte pressão do segmento do agronegócio.
Junto com os impostos, os subsídios são uma das principais causas das altas tarifas de energia no Brasil. Esses dois componentes correspondem a mais de 40% da conta de luz da Light, por exemplo. Isso sem contar a taxa de iluminação pública.
Para o TCU, subsídios para tarifas de consumidores rurais, irrigantes e empresas de saneamento são ineficientes e deveriam ser financiados pelos respectivos setores ou pela sistemática que orienta as finanças públicas. Além disso, eles fazem a conta de luz aumentar num efeito cascata.
“Ainda que o efeito percebido pelos consumidores em razão do aumento tarifário seja relativamente baixo, a arrecadação é volumosa, da ordem de bilhões de reais por ano, e os seus efeitos são perversos na economia, visto que, como a energia elétrica é insumo na base da cadeia produtiva, distorções em seu preço se propagam, afetando a coletividade, a competitividade da indústria e as taxas de inflação”, diz o relatório.
O tribunal avalia ainda que estes subsídios têm baixa transparência, não são fiscalizados ou monitorados nem avaliados. E resume o quadro: “o que os reduz a meras medidas de favorecimento a determinados mercados”.