Em Carta Aberta, Ex-Presidente do Conselho da Eletrobras Critica a Privatização

ex-presidente do conselho de administração da Eletrobras José Luiz Alquéres fez duras críticas ao processo de privatização da estatal em uma “Carta Aberta”, divulgada após o envio do projeto de lei com a modelagem da venda da empresa ao Congresso Nacional, na última sexta-feira (19).

No documento, o executivo questiona: “O que está ocorrendo neste setor crucial para economia? Ignorância…? Instinto de sobrevivência, perspectiva de lucros de uma classe de agentes ou de acionistas?”.

Ao fim de sua mensagem, o ex-presidente do conselho da estatal afirma: “Mas este não é um texto do como fazer. É apenas para dizer que não se faz coisas certas com pessoas erradas para a missão.”

 Ministro chateado

Ao ter conhecimento da carta, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, disse a interlocutores ter ficado chateado. “Nós deveríamos ter tratado o Alquéres melhor. Ter recebido para conversar mais…”, disse o ministro a alguns interlocutores.

As relações entre Alquéres e a família Bezerra Coelho são pessoais: ele era amigo do falecido avô e também do pai de Fernando Coelho Filho, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). O ministro fez questão de tê-lo na equipe.

“O avô materno era muito meu amigo. Já faleceu. Tenho (ou tinha) uma relação muito boa com o senador [pai do ministro] a quem considero um amigo. Naturalmente meu posicionamento neste caso da minha parte em nada afeta essa relação histórica e espero que da família também. Estou procurando defender o melhor para o Brasil, na minha visão”, disse Alquéres, por escrito.

Nove meses

Com Fernando Coelho Filho no Ministério de Minas e Energia, o ex-presidente da Eletrobras ocupou a presidência do conselho da estatal por nove meses (de julho de 2016 a abril de 2017). Foi sua terceira passagem no comando da empresa. Antes, o executivo presidiu a Eletrobras no mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e depois teve cargo no conselho da companhia durante o governo de Dilma Rousseff.

Em abril do ano passado, Alquéres pediu demissão antes da definição do modelo de privatização. Saiu tecendo críticas sobre o peso político nas nomeações para os cargos nas estatais.

“Teve a chance e não fez nada”

Para um executivo do setor elétrico que preferiu não ser identificado, José Luiz Alquéres teve a chance de fazer diferente e não fez. “Ele estava no conselho da estatal nas vésperas da edição da Medida Provisória 579, em 2012, que destruiu o valor da Eletrobras. Na ocasião, ele preferiu pedir para sair no lugar de lutar pelo bem da empresa. Agora, novamente, ele estava na presidência do Conselho e poderia ter feito diferente. Mas preferiu pedir para sair novamente do cargo”.