Uso emergencial de térmicas custou, em 2009, R$ 470 milhões

Uso emergencial de térmicas custou, em 2009, R$ 470 milhões

Em um ano marcado pelas chuvas intensas, em que os reservatórios das usinas hidrelétricas transbordaram de tanta água e a demanda por energia caiu, a conta que o consumidor vai pagar pelo despacho das usinas termelétricas será bem maior do que um cenário como esse proporcionaria. Os encargos gerados para a segurança energética do país e por restrição de operação do sistema ultrapassaram R$ 470 milhões em 2009. É o segundo maior valor registrado na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) desde 2003.

Os motivos pelos quais as termelétricas foram acionadas são muitos, mas a conta mais significativa é a do apagão. Para evitar um novo blecaute, o Operador Nacional do Sistema (ONS) reduziu a geração da hidrelétrica de Itaipu, cuja energia é transportada pelas linhas de Furnas. Para compensar, foi preciso despachar térmicas e somente nos meses de novembro e dezembro esses encargos devem ultrapassar os R$ 120 milhões, segundo cálculos feito pela Associação dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace) com base nos boletins de operação do ONS.

A assessoria do ONS confirmou que desde novembro – e não apenas neste início de 2010 – as termelétricas foram acionadas em função da segurança do sistema Itaipu. O contingenciamento que está sendo realizado é em função dos ajustes nas linhas e subestações de Furnas, segundo informou o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, na semana passada. Ele também disse ao Valor, naquela oportunidade, que esse custo deveria ser de R$ 80 milhões até maio desse ano, quando se espera que não haja mais necessidade de se operar com esse contingenciamento extraordinário no sistema Itaipu. Ele também disse que em 2009 os encargos das termelétricas teriam sido de R$ 130 milhões.

Os dados da Abrace, contudo, mostram que, além do despacho dos últimos meses de 2009, em janeiro desse ano as térmicas já geraram encargos da ordem de R$ 69 milhões. Para o mês de fevereiro, até o último dia 8, o valor dos encargos já chegava a R$ 44 milhões, segundo Ricardo Lima, presidente da Abrace.

Os encargos por despachos não-previstos das usinas termelétricas geram duas contas diferentes. Uma delas é a que está sendo causada pela operação parcial do sistema Itaipu. É chamada de razão elétrica, ou seja, quando há saída de uma usina ou de sistemas de transmissão da operação. As linhas do sistema Acre-Rondônia também estão com problemas e contribuem para essa conta.

A outra conta de encargos decorre de questões de segurança energética. Basicamente, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) decide acionar as térmicas para que os reservatórios possam ficar cheios e não haja risco de falta de suprimento. E essa conta foi muito mencionada em 2008 porque chegou a R$ 2,3 bilhões. Naquele ano, contudo, o cenário era de falta de energia, a economia crescia a todo vapor, a falta de chuva assolava todo o país já no primeiro semestre do ano, e a Aneel chegou a prever um racionamento. Por isso, as térmicas foram acionadas.

Em 2009, os valores dos encargos por segurança energética foram bem inferiores, cerca de R$ 250 milhões. Para o diretor de outra associação de consumidores, a Anace, Lúcio Reis, isso foi dinheiro jogado fora. A decisão de ligar as térmicas foi tomada em função da falta de chuva no Sul, para manter um nível mínimo de 40% dos reservatórios. “Porque não deixar um nível mínimo menor?”, questiona Reis.

Um importante executivo de uma geradora do sul do país conta que ano passado uma de suas usinas estava vertendo uma Belo Monte por dia, com tanta chuva que começou a cair. A crítica de Reis é ao fato de que os encargos são divididos por todos os consumidores quando, na sua opinião, deveriam ser assumidos por aqueles que ficaram expostos ao preço à vista do mercado livre. Ao acionar térmicas, o preço à vista se mantém estável não refletindo um possível racionamento.

Por Josette Goulart

Fonte: Valor Econômico