Leilões vão trazer nova fase para Eletrobras
O leilão de privatização da Cepisa, distribuidora da Eletrobras no Piauí, previsto para a próxima quinta-feira, pode marcar uma nova etapa no programa de desinvestimentos da estatal elétrica, cujo objetivo é alcançar R$ 4,6 bilhões até 2022, principalmente com venda de participações minoritárias em sociedades de propósito específico (SPEs). Até o momento, a companhia já levantou mais de R$ 1,4 bilhão com a venda de ativos, caso da Celg Distribuidora (Celg D), o projeto hidrelétrico de Tumarín, na Nicarágua, e participações minoritárias na Eletropaulo, CPFL e Energisa Mato Grosso.
O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior, que completará dois anos no cargo justamente na data prevista para abertura dos envelopes da licitação da Cepisa, acredita que, com a privatização das seis distribuidoras do grupo e o leilão das 70 SPEs de geração de energia eólica e transmissão previstos para este semestre, a companhia – “com certeza” – alcançará sua meta de desalavancagem. O objetivo é atingir um nível de endividamento menor que 3 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda no fim do ano.
“A relação dívida líquida sobre Ebitda saiu de 8,8 [vezes] em 26 de julho [de 2016, quando ele assumiu a presidência da companhia] para 3,7 [vezes] no primeiro trimestre deste ano. E agora vamos soltar até 15 de agosto [o resultado do segundo trimestre]. Continuamos melhorando. É possível que [o nível de endividamento] caia mais um pouco ainda”, disse o executivo ao Valor.
“A estratégia é para ser menor do que 3 [vezes] no fim do ano. Acho que estamos no caminho certo”, completou Ferreira Júnior, que esteve em Brasília na última semana, tratando, entre outros assuntos, da apresentação de documentos ao Tribunal de Contas da União (TCU) para obter o aval do órgão para o leilão das 70 SPEs.
“O leilão [das SPEs] deve ser em meados de setembro”, afirmou o executivo, ressaltando, porém, que é preciso aguardar o posicionamento do TCU sobre o negócio.
Com relação à Cepisa, o processo de privatização da empresa, segundo Ferreira Júnior, está bem encaminhado. Para ele, a licitação da empresa, que possui as melhores condições entre os ativos de distribuição à venda da companhia, vai inaugurar de forma positiva o processo de desestatização das distribuidoras da holding.
“[O leilão da Cepisa] inaugura bem o processo. É uma das boas empresas que nós temos. É um desafio. É uma luta muito grande. Mas [o leilão] está bem encaminhado de alguma maneira”.
Questionado sobre potenciais interessados no negócio, Ferreira Júnior disse não saber detalhes do processo, já que os trâmites do leilão são conduzidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O executivo, porém, disse acreditar que a licitação será bem sucedida.
Segundo o presidente da Eletrobras, as seis distribuidoras da companhia, além de algumas estatais estaduais, como Cemig e Copel, são as últimas do segmento que ainda não estão sob controle privado. “Estamos vendendo as últimas oportunidades de expansão no setor de distribuição de energia brasileiro”, disse ele, acrescentando que as distribuidoras do grupo respondem por algo entre 4% e 4,5% do mercado de distribuição.
Demonstrando otimismo, o presidente da Eletrobras afirmou que a recente disputa entre Enel e Neoenergia pelo controle da Eletropaulo, e o valor que o grupo italiano pagou pela distribuidora paulista (R$ 5,5 bilhões, além de um compromisso de aumento de capital de R$ 1,5 bilhão) “é uma demonstração de que a regulação está positiva, de que há confiança no Brasil e uma perspectiva de crescimento”.
Ferreira Júnior destacou ainda que as outras cinco distribuidoras – Amazonas Energia (AM), Eletroacre (AC), Ceron (RO), Boa Vista Energia (RR) e Ceal (AL) – deverão ser licitadas em bloco provavelmente em 30 de agosto.
Ele ressaltou também o apoio do governo para a privatização das distribuidoras. “Temos que agradecer também a atenção que a agência [Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)] deu para isso. O trabalho liderado pelo BNDES também foi fundamental”, completou o executivo, reconhecendo ainda o trabalho da própria equipe de distribuição da estatal.
Ainda no âmbito do programa de desinvestimentos da Eletrobras, outro braço que avançou nos últimos meses foi o de transferência de ativos que ainda possuem compromisso de construção. Foi o caso, por exemplo, da transferência da Eletrosul para a Shanghai Electric de um conjunto de empreendimentos de transmissão no Sul arrematados em leilão da Aneel, que somam 1,9 mil km e demandam investimentos de mais de R$ 3 bilhões. Ao fim do processo, a Eletrosul ainda terá 28% de participação.
Na outra ponta da estratégia de melhoria do perfil de endividamento, a Eletrobras está concluindo obras importantes, reduzindo despesas e aumentando a receita.
No caso da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, por exemplo, a geração de caixa a partir das turbinas que já estão em operação comercial vai liberar os acionistas de terem que fazer novos apores para a conclusão do empreendimento.
“Colocamos a obra de Belo Monte no cronograma, para terminar em setembro do ano que vem. Mas ela [a usina] já está funcionando. A partir de agora, não deve precisar de aporte dos acionistas”, disse Ferreira Júnior, acrescentando que o último aporte foi feito este mês.
Belo Monte está com 15 máquinas em operação, sendo nove na casa de força principal, totalizando 5.500 megawatts (MW), e seis na casa de força complementar, somando 233 MW. Quando a usina for concluída, a capacidade será de 11.233 MW, por meio de 24 máquinas, sendo 18 na casa de força principal e as seis da casa de força complementar.
A Eletrobras possui 49,98% de Belo Monte. Os demais sócios são os fundos Petros (10%) e Funcef (10%), a Neoenergia (10%), a Amazônia Energia (formada por Light e Cemig, com 9,77%), a Aliança Norte Energia (formada por Vale e Cemig, com 9%), a Sinobras (1%) e a J. Malucelli Energia (0,25%).
A Eletrobras também prevê concluir em novembro deste ano as obras da hidrelétrica de Sinop (MT) e, até o fim do ano, a construção de um conjunto de eólicas da Chesf, somando cerca de 110 MW.