Mercado livre é opção para reduzir as contas de luz

Mercado livre é opção para reduzir as contas de luz

A crise econômica está levando pequenas e médias empresas a ingressarem no mercado livre de energia de olho na redução das contas de luz, que entre 2014 e 2015 tiveram alta de 50% no mercado regulado. Empresas com demanda contratada igual ou superior a 500 kW podem adquirir livremente energia gerada por fontes renováveis, como hidrelétricas de pequeno porte (PCH), termelétricas a biomassa e fontes eólicas. A economia pode chegar até a 30%. O mercado livre difere do mercado cativo (em que residências e empresas são atendidos por distribuidoras), pelo fato de o consumidor poder comprar sua energia livremente de distribuidoras ou comercializadoras.

“O tíquete médio das empresas que buscam o mercado livre caiu e hoje já existem muitas com contas de luz mensais de R$ 80 mil buscando esse segmento de comercialização”, afirma Cristopher Vlavianos, sócio da Comerc. Casa do Pão de Queijo e Cacau Show são algumas das redes que migraram para o ambiente livre de energia nesses últimos meses. “A redução de preço pode chegar a 30%, o que em um cenário que exige redução de custos é essencial”, diz.

Segundo Marcio Sant’anna, sócio da Ecom Energia hoje muitas empresas que gastam entre R$ 60 mil e R$ 80 mil por mês estudam o que podem fazer. “Há cinco anos, quem gastava R$ 100 mil ou mais é que estava com esse assunto em seu radar de interesse”, afirma. Um exemplo é o da fabricante de móveis Caemmun, que tem duas unidades industriais no Paraná e há alguns anos estudava a possibilidade de ingressar no ambiente livre de comercialização de energia. No início de 2015, a empresa formou um grupo com outras 15 indústrias do polo moveleiro de Arapongas (PR) interessadas em um estudo de viabilidade econômica do mercado livre. Apresentado por uma comercializadora, o estudo foi vital para a decisão de migrar, concretizada em maio deste ano.

“O custo da energia é uma preocupação constante de qualquer indústria; é um dos insumos mais pesados para a produção industrial. Nossas faturas de energia subiram 70% entre maio de 2014 e maio de 2015 e era crucial a mudança, sob risco de perda de competitividade”, diz Roberto Caetano, presidente da Caemmun. No caso da filial da empresa, em Sabáudia (PR), a empresa decidiu antecipar a migração em sete meses, mesmo arcando com multa cobrada pela distribuidora, já que a economia prevista nesse período seria superior ao valor da multa. “Tivemos uma economia que variou entre 25% d 35%, dependendo do mês, mesmo tendo ingressado nesse mercado somente em maio. Além da economia financeira conseguimos melhorar os horários de turnos, que passaram a trabalhar nos períodos “de pico”, o que antes era impossível devido ao alto custo tarifário do mercado cativo”, diz o executivo. O ingresso no mercado livre exigiu uma mudança na forma de gestão do consumo de energia, já que a Caemmun passou a ter de prever a variação do consumo mensal nas unidades. Foi criado um comitê interno que planeja o consumo mensal de energia, de acordo com o volume de produção esperado, as estratégias de investimentos em novos equipamentos e a possibilidade de aumento de turnos ou de férias durante o ano.

A Casa do Pão de Queijo pensou pela primeira vez na migração em 2012, mas a decisão foi tomada mesmo em 2015 e concretizada neste ano, quando a fábrica, que produz e distribui todos os produtos da rede, tornou-se consumidora livre. O custo com energia elétrica aumentou 65% em 2015 em relação a 2014. “Para ingressar no mercado livre, tivemos de fazer uma pequena adequação na cabine primária, que é o local de entrada da energia elétrica, além de instalar um novo sistema de medição compatível com as regras do mercado livre”, diz Fernando Borelli Editore, da área de marketing da Casa do Pão de Queijo.

Em agosto, a Fazenda Colorado, localizada em Araras (SP), contratou 0,7 MW médios para consumo, tornando-se a primeira consumidora livre a adquirir energia de uma comercializadora varejista, novidade regulatória recente. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) habilitou as primeiras comercializadoras nessa categoria em julho deste ano. A Comerc Varejista realiza todos os processos na CCEE em nome da Fazenda Colorado.

Por não ter CNPJ, mas ser um condomínio rural constituído de pessoas físicas, a fazenda buscou a figura da comercializadora varejista e não ingressou diretamente como consumidor livre, diz Antônio Carlos Sobreira, gerente geral da Fazenda Colorado. Outro motivo para buscar o mercado livre foi a possibilidade de contratar energia de fontes renováveis incentivadas, como as geradas por PCHs, usinas eólicas, solares ou térmicas de biomassa. “Temos um contrato de energia até 2019 que permite economia mensal de R$ 50 mil”, diz.

A fazenda teve outra vantagem: a produção de leite mantém o gado confinado em ambientes fechados em que a troca de ar é constante e o uso de energia, intenso. No horário de pico, para fugir das tarifas que chegam a quadruplicar de preço, a empresa usava geradores. “Agora essa energia fica como segurança do sistema; isso reduz a necessidade de cogeração e ainda diminui a necessidade de manutenção dos equipamentos”, diz. Os estudos de enquadramento da fazenda no mercado livre começaram em agosto de 2015 e o processo durou dez meses.

Há pressões de empresas para ampliação do mercado livre de energia. A principal iniciativa – o projeto de lei nº 1917/2015 – é defendida pelos comercializadores. Trata da ampliação gradual do mercado livre em etapas até 2022, quando a novidade também chegaria aos consumidores residenciais, marcando a abertura completa do mercado de energia elétrica a todos os cerca de 80 milhões de consumidores. A ideia é a portabilidade, como no setor de telefonia, onde o consumidor pode escolher sua operadora apenas levando a comprovação das contas pagas na outra companhia telefônica que deseja abandonar. As comercializadoras também apresentaram no fim do ano passado ao Ministério da Fazenda uma ideia de aproveitar a sobra de energia atual em virtude da crise econômica e permitir que parte dela possa ser direcionada às 300 mil indústrias, que poderiam ter liberdade de comprar energia.