Garantir a sustentabilidade das empresas é assegurar novos investimentos no setor elétrico
Estamos em um momento em que é preciso recuperar a estabilidade do setor elétrico e criar as condições e incentivos para que possa não só se expandir, como também enfrentar os enormes desafios tecnológicos e regulatórios que se apresentam
Durante anos, os papéis das empresas do setor elétrico atraíram um perfil de investidor em busca de ações pagadoras de dividendos, geralmente com objetivos de longo prazo. Com retornos mais baixos em relação a papéis mais voláteis e risco discreto, seguindo características de um mercado de monopólio natural, regulado, eram conhecidas pelo jargão “ações de viúva”.
Hoje, no entanto, o setor vive um período de instabilidade financeira. Sem um fundamento econômico robusto, o barateamento da energia elétrica abriu caminho não só para a crise do setor, mas para a própria crise fiscal que hoje é um dos grandes problemas do país.
A incerteza e a volatilidade das condições do mercado são tão grandes que, em períodos de seca, distribuidoras e produtores não conseguem fechar o mês sem recorrer a malabarismos, empréstimos e repasses setoriais.
Ainda assim, o setor de distribuição realizou investimentos que permitiram ao sistema atingir o melhor desempenho desde 2008, com disponibilidade de 99,82%. Isso significa que, das 8.760 horas do ano, os consumidores ficaram 15,82 horas em média sem energia, uma redução de 15% ao valor registrado em 2015, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Para o novo ciclo de revisões tarifárias, que começa em março e vai até 2020, a Agência reduziu o custo médio ponderado de capital (WACC) das distribuidoras de energia elétrica de 8,09% para 7,71%. A redução terá um efeito irrelevante no valor das tarifas, mas um impacto significativo na capacidade de investimento das distribuidoras que registraram perdas financeiras em 2015 e 2016. Levantamento do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ (Gesel) mostra que 27% das grandes empresas privadas do setor tiveram prejuízo.
Estamos em um momento em que é preciso recuperar a estabilidade do setor elétrico e criar as condições e incentivos para que possa não só se expandir, como também enfrentar os enormes desafios tecnológicos e regulatórios que se apresentam.
Adotada de forma equilibrada a geração distribuída pode beneficiar tanto o consumidor quanto o sistema. Mas ao incentivá-la sem limites, destruirá o valor das distribuidoras, que são a porta de entrada dos recursos financeiros para todo o setor elétrico e seus agentes.
É essencial que o caixa das distribuidoras, e também dos produtores, seja saudável e previsível, para que se mantenham atrativos aos investidores e garantam a sustentabilidade econômica de todo o setor.