Nível de reservatórios aponta para alta no custo da energia

Nível de reservatórios aponta para alta no custo da energia

Expectativa da Indústria.

Sinal de aumento da conta pode favorecer migração para o mercado livre por mais um ano, mas as elétricas ainda enfrentam problemas com baixa demanda no País.

 

Mesmo com a atividade interna ainda retraída, o baixo nível dos reservatórios pode elevar o custo da energia para a indústria brasileira a partir de abril, durante o período seco.

“O preço da energia pressiona o custo das indústrias, em alguns setores mais e em outros menos. E com a estrutura de custos ainda pressionada, é certo que as empresas vão buscar alternativas para economizar e isso inclui buscar energia mais barata”, afirmou o coordenador da Fundação Instituto de Administração (Fia), Roy Martelanc.

A mesma avaliação foi feita pelos outros especialistas ouvidos pelo DCI, que veem a alta do preço da energia estimulando novas migrações ao mercado livre. “Esse ano muitos consumidores de menor porte devem ingressar no mercado livre, mas com o preço da energia também voltando a subir, certamente a atratividade da migração aumenta”, comentou o sócio diretor da comercializadora Ecom Energia, Paulo Toledo.

Segundo ele, nos estados com forte atividade industrial e tarifas elevadas no mercado cativo podem apresentar maior crescimento na migração. “Como no Paraná, estado no qual a tarifa ficou congelada por muito tempo”, completou Toledo.

As empresas dos setores de veículos (+10,1%), têxteis (9,8%) e madeira, papel e celulose (+9,4%) registraram as maiores altas na demanda por energia no mercado livre em dezembro ante igual período de 2016. O avanço, que excluí a entrada de novas cargas no ambiente livre, reflete a retomada de atividades em algumas áreas produtivas.

No entanto, o preço no mercado livre, representado pelo Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), cresceu nos últimos meses, o que derruba parte do apelo da migração para reduzir custos.

No submercado Sudeste e Centro-Oeste, região que concentra a maior parte do consumo, o megawatt/hora (MWh), médio, em fevereiro atingiu R$ 128,43, mais de quatro vezes superior ao preço médio de R$ 30,42 praticado no mesmo mês do ano passado.

“Estamos com o período úmido bastante avançado, então já dá para ter visão dos preços, que este ano estão um pouco maiores do que no ano passado”, explicou ao DCI o presidente da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Rui Altieri.

A entidade projeta PLD na faixa de R$ 200 por MWh neste ano, com perspectiva de queda a partir de dezembro, informou a CCEE nesta quinta-feira (2).

Para o presidente da elétrica EDP, o aumento dos preços no mercado livre pode favorecer o segmento de distribuição, no qual a companhia atua e vem enfrentando problemas com a sobrecontratação involuntária derivada da migração de clientes.

“Com o PLD a R$ 150, isso é muito próximo do PMIX, o preço médio dos contratos das distribuidoras. Um cenário em que o PLD subiu e está em referencial próximo daquele que é médio dos contratos, isso vai abater a dimensão [econômica] desse problema”, comentou o diretor executivo da EDP, Miguel Setas, em coletiva de imprensa.

 

Mercado cativo

Os executivos do setor contam com a aprovação da venda de sobras de energia das distribuidoras no mercado livre neste ano como solução para a sobrecontratação involuntária.

Mesmo com a dinâmica de preços no setor elétrico sendo pautada pela hidrologia e não por uma lei direta de oferta e demanda, a venda das sobras pode representar uma oportunidade para algumas empresas, na avaliação do especialista em energia da consultoria CGI Brasil, Marco Afonso.

“Se a venda dessas sobras for autorizada pelos reguladores do setor elétrico, é possível que possamos ver na negociação algum espaço para as consumidoras otimizarem a compra”, observou ele. O formato dessa venda de sobras, entretanto, ainda não foi definido e pode ser feito por meio de leilão.

Afonso destacou ainda que em março a bandeira tarifária para o mercado cativo voltou a ser amarela. A bandeira é acionada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nos meses em que o Custo Variável Unitário (CVU) da última usina a ser despachada fica entre R$ 211,28 e R$ 422,56 por MWh.

A mudança da bandeira refletiu a menor vazão de água que chegou aos reservatórios das hidrelétricas, que sinaliza uma maior necessidade de uso das termelétricas para abastecer o sistema, informou a Aneel.

 

Eficiência

No último ano, a tarifa média de energia no mercado regulado subiu 5,03% na classe industrial para R$ 393,72 por MWh e 7,16% na classe comercial e de serviços para R$ 445,36 por MWh.

“Com todos esses fatores impactando negativamente a receita, os empresários que permaneceram nas atividade passaram a adotar medidas de redução de custos, adequando o uso dos equipamentos elétricos e adotando alternativas mais eficientes energeticamente”, citou a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em relatório que cita o aumento da tarifa.

Para o diretor da W-Energy, Wagner Carvalho, a maior parte dos investimentos tanto da indústria como de outros setores em eficiência, já foi feito nos últimos anos, mas o aumento do preço da energia pode voltar a estimular projetos. A W-Energy desenvolve e instala sistemas de eficiência energética e hídrica.

“Hoje, 30% dos nossos contratos são para a área de energia elétrica e 70% para eficiência hídrica, porque muito na parte elétrica foi feito pelas empresas. Mas como a tendência é que a economia volte a se recuperar e, com isso, a demanda por energia, pode ser necessário religar mais térmicas, o que aumenta o preço da energia e volta a movimentar os projetos de eficiência energética”, avaliou Carvalho.