Presidente do Paraguai fala ao Ministério Público sobre caso Itaipu
O órgão investiga irregularidades no acordo entre Brasil e Paraguai
O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, recebeu neste domingo (11) um grupo de promotores em Assunção para responder questões relacionadas ao acordo assinado entre o país e o Brasil sobre Itaipu, que quase levou a seu impeachment.
Os promotores Marcel Pecci, Susy Riquelme e Liliana Alcaráz chegaram ainda pela manhã na Quinta de Mburuvicha Róga, a residência oficial, para recolher o depoimento do mandatário sobre o novo acordo do uso da usina, que acabou cancelado pelo Paraguai.
O Ministério Público paraguaio investiga possíveis irregularidades contidas no acordo, que permitiria que Assunção pudesse negociar com empresas privadas brasileiras parte de sua energia excedente.
A oposição e parte do Partido Colorado, sigla de Abdo Benítez, anunciaram que votariam o impeachment do presidente por causa do documento. A pressão só diminuiu quando o governo anunciou em 1º de agosto que estava cancelando o acordo.
O caso, porém, ficou mais grave quando foram entregues ao Ministério Público conversas vazadas entre o então presidente da Ande (estatal energética paraguaia) e o advogado José Rodríguez, que se apresentava como assessor jurídico de do vice presidente paraguaio, Hugo Velázquez. Depois que os chats vieram à tona, ambos negaram ter um vínculo.
Nas conversas, fala-se de uma possível venda de parte da energia que corresponde ao Paraguai a uma empresa brasileira, a Léros, que segundo essas mensagens estaria ligada à família Bolsonaro.
Alguns dias depois, outros diálogos divulgados mostraram que, além de Velázquez, o presidente Abdo Benítez também estaria a par da negociação e a teria aprovado. Por isso, tanto o presidente quanto seu vice foram chamados a depor.
Ao entrar na residência presidencial, a promotora Liliana Alcaraz disse que o depoimento de Abdo Benítez tinha como propósito “obter informação” e teria um formato de entrevista informal, “e não de interrogatório”.
E acrescentou: “nesta etapa, o Ministério Público não tem nenhum tipo de formalidade, não se trata de um julgamento oral, onde se recolhem provas”, disse.
O promotor Pecci disse que a investigação seguirá ao longo da semana, depois da entrega de um relatório e um cronograma sobre como foram as negociações entre a Ande e a Itaipu. Todos os telefones envolvidos nos chats devem ser entregues, por pedido do Ministério Público.
A pressão em torno da dupla presidencial tem sido grande, com alguns protestos tendo ocorrido em Assunção mesmo depois de a tentativa de impeachment, em 1º de agosto, não ter ido adiante.
Por ora, há uma espécie de trégua dentro do Partido Colorado, uma vez que o grupo liderado pelo rival interno de Abdo Benítez, o ex-presidente Horacio Cartes, se comprometeu a não oferecer os votos necessários ao início do julgamento político.
Ainda assim, o principal partido opositor, o PLRA, protocolou novamente o pedido de uma ação para julgamento político —por enquanto, ainda sem o número suficiente para autorizar o início do processo.