Setor quer substituir óleo por gás no Nordeste
Já prevendo o insucesso de grandes usinas termelétricas no leilão A-6 do fim deste mês, o setor está se movimentando para tentar viabilizar a substituição de usinas termelétricas antigas a óleo combustível do Nordeste, mais caras e poluentes, por novos projetos a gás natural.
Um estudo preparado pela Thymos Energia a pedido da Associação Brasileira Geradoras Termelétricas (Abraget) aponta que, se as usinas a óleo tivessem sido substituídas por novas unidades acionadas a gás natural entre 2012 e 2015, o consumidor teria obtido uma economia de R$ 6 bilhões por ano, evitando custos decorrentes da geração das usinas mais caras, da exposição ao risco hidrológico e também com encargos.
De acordo com o estudo, a substituição também evitaria que os reservatórios das hidrelétricas tivessem enfrentado a situação crítica dos últimos anos, que resultou em seu esvaziamento. Como as térmicas a gás têm custo mais baixo, seriam despachadas com maior frequência do que as a óleo, poupando a água das barragens que abastecem as usinas hidrelétricas.
O Valor apurou que a proposta de realização de um leilão para contratação de termelétricas a gás natural foi apresentada na última reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), há duas semanas. Na ocasião, porém, o colegiado não aprovou a medida de imediato e determinou a realização de estudos mais aprofundados sobre a necessidade de implantação de termelétricas no Nordeste.
“Não somos contra térmicas. Achamos que temos que estudar qual é o melhor momento para fazer o leilão. Fazer qualquer coisa agora significa que vai ter impacto daqui a quatro anos. Se gastarmos dois meses estudando, pode ser que não tenhamos impacto nenhum”, explicou o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata.
Os críticos da ideia do leilão apontam, entre outras questões, que as distribuidoras de energia já incluíram o fim dos contratos com as usinas a óleo na projeção de demanda para os próximos anos. Essa projeção é que baliza a contratação de energia nos leilões que estão acontecendo agora.
Caso os estudos indiquem a necessidade de construção de usinas termelétricas na região, será necessário um segundo estudo para determinar qual seria o melhor mecanismo de contratação dessa fonte. “O sensato foi o que prevaleceu na reunião. É preciso estudar profundamente o assunto e não adotar uma alternativa de forma corrida, principalmente tendo sido proposto um leilão que foi abandonado por ser ineficiente [leilão de energia de reserva]”, disse um interlocutor.
Aqueles que defendem o leilão das termelétricas ainda não definiram um modelo para a contratação dessas usinas. A ideia que prevalece é que as novas termelétricas devem entrar em operação conforme os contratos vigentes das usinas a óleo forem vencendo ao longo dos próximos anos. Um ponto de convergência no setor é que a energia deve ser contratada diretamente pelas distribuidoras, o que descarta a configuração de um leilão de reserva, na qual a garantia física era contratada pelo governo.
Com a determinação de realização de mais estudos sobre a real necessidade de implantação de projetos termelétricos a gás natural no Nordeste, um especialista do setor disse ser pouco provável que um leilão específico para contratação da fonte seja realizado ainda neste ano.