Uso de fontes alternativas deve aumentar

Uso de fontes alternativas deve aumentar

Responsáveis por quase 20% do potencial energético instalado no país, as fontes renováveis têm papel importante no mercado livre de energia. De acordo com as regras do Ambiente de Contratação Livre (ACL), os consumidores especiais – com demanda entre 0,5 MW e 2,99 MW – devem comprar apenas a chamada energia incentivada, que é produzida por usinas eólicas, fotovoltaicas, biomassa ou pequenas centrais hidrelétricas.

“As fontes alternativas são uma tendência mundial e devem crescer ainda mais por causa das instabilidades do clima, que afetam diretamente as hidrelétricas”, explica o engenheiro elétrico e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, José Roberto Soares. Ele destaca vantagens para a ampliação das fontes renováveis no Brasil: “Estamos em uma região tropical, com sol e vento o ano todo”. Ele também destaca os custos mais baixos da produção de energia renovável. “Enquanto uma usina hidrelétrica leva dez anos para ser construída e provoca grande impacto ambiental, um parque eólico pode ser erguido em um ano e é muito mais barato.”

Um dos desafios enfrentados pelas fontes renováveis refere-se à geração intermitente (sujeita a interrupções), já que os parques dependem de fatores naturais para produção, como sol e ventos. A solução, de acordo com especialistas, é a integração entre as matrizes e a substituição da fonte energética em caso de problemas operacionais, já que o armazenamento industrial das energias limpas, pelo menos por enquanto, ainda é muito caro. “A intermitência (das fontes renováveis) é um desafio não só no Brasil, mas no mundo todo.

Nossa grande vantagem em relação aos outros países é o potencial dos nossos reservatórios hidrelétricos para o suprimento do consumo”, diz Reginaldo Medeiros, presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel).

A diversidade de matrizes e integração dos sistemas também são medidas apontadas pelo sócio-diretor da FDR Energia, Erick Azevedo, para evitar problemas de geração intermitente de energia. “Nenhum sistema consegue operar apenas com 100% de energia alternativa. Uma área que depende muito da energia eólica, por exemplo, deve estar ligada a outro sistema, como o térmico”, explica. Com R$ 140 milhões de faturamento e 120 MW médios comercializados por mês, a FDR atua nas áreas de comercialização de energia e estruturação de ativos.

Entre as fontes alternativas, a biomassa ganha destaque e responde por 9% da potência energética instalada no país. No ano passado, foram gerados 25.482 GWh de bioeletricidade no país, 6,8% a mais do que em 2017. Deste total, 69% foram destinados ao mercado livre de energia e o restante para o mercado regulado ou cativo. Os números são da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica), com base em dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Entre as vantagens apontadas para a biomassa está a proximidade dos grandes centros consumidores de energia, o que diminui os custos de transmissão e perdas. O bagaço da cana-de-açúcar utilizada na produção do etanol é a principal matéria-prima utilizada para a biomassa, com 84,1% do total. “A maior parte das usinas está na região centro-sul, onde fica o maior mercado consumidor de energia brasileiro”, diz o gerente de bioeletricidade da Unica, Zilmar Souza.

Outra vantagem é a baixa intermitência da bioeletricidade. O pico de produção coincide com a seca nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, quando os reservatórios de hidrelétricas perdem volume. “Somos considerados um produto sazonal e não intermitente”, diz.