A-6: preços menores devem proporcionar deságios mais baixos
Apesar de valores teto mais baixos do que em 2017, a tendência é de que haja competição em decorrência do alto volume de projetos que poderão disputar o certame.
A redução dos preços teto para o leilão A-6, agendado para o dia 31 de agosto, não deve ser visto como um empecilho para a competitividade do certame. Até porque o volume de projetos cadastrados deverá ser, novamente, significativamente acima da demanda declarada pelas distribuidoras. Mas um fato deverá se comprovar: os contratos deverão estar mais caros, uma vez que resultados como da eólica do ano passado não devem ser considerados como referência de mercado.
Na avaliação da diretora da Thymos Energia, Thaís Prandini, os deságios deverão apresentar menor elasticidade. O que deverá levar ao resultado de um valor mais elevado nos contratos. Ela lembrou que para as térmicas houve um aumento no capex o que deve apertar a margem de desconto no leilão. A novidade da eólica no certame, de mudar a forma de contratação de disponibilidade por quantidade deverá ser o driver do aumento de preços da energia. Isso porque essa mudança altera a forma de obtenção de financiamento dos investidores.
“Não deveremos ver os preços mais baixos que tivemos no último leilão. Acho que será de mais de R$ 100/MWh, em minha opinião o justo seria de R$ 125/MWh, mas com a concorrência é possível que fique abaixo desse patamar, mas acima de R$ 100”, indicou.
O palpite da consultoria é de que esse leilão deverá agregar cerca de 1 GW médio de contratos. E se houver mesmo o leilão de térmicas que vem sendo aventado no mercado é capaz que a eólica seja privilegiada à luz do que ocorreu no A-4 desse ano com a solar. E assim, as térmicas de menor porte poderiam ser mais competitivas nessa disputa do final de agosto, pois grandes usinas são mais eficientes, mas com risco muito maior.
Pelo lado da fonte eólica, a presidente executiva da Associação Brasileira da Energia Eólica, Élbia Gannoum, disse que o preço está em linha com o que foi estabelecido no leilão A-6 do ano passado. Segundo sua avaliação, o segmento esperava naturalmente uma retração do teto ante o deságio registrado no ano passado. “Esperávamos a redução e que não fosse grande. O preço de equilíbrio da eólica é uma incógnita porque há efeitos conjunturais e estruturais. Mas os valores teto estabelecidos estão em linha com 2017, foi uma decisão bem acertada”, comentou a executiva da ABEEólica.
Os preços teto para a fonte estão em R$ 227/MWh para empreendimentos novos e R$ 171,82/MWh para os projetos com outorga e contratos já firmados. No ano passado os valores estavam em R$ 276/MWh e contemplavam apenas projetos novos. A redução nesse caso é de 17,7%. A fonte eólica fechou com preço médio de R$ 98,62/MWh, representando um deságio de 64,27% frente ao teto.
Élbia, que está no Rio de Janeiro para a edição 2018 do Brazil Windpower, maior evento do segmento na América Latina, aponta que a expectativa do mercado é de que a demanda por eólicas seja da ordem de 1 GW de capacidade instalada e, com a oferta na casa de 27 GW em carteira a possibilidade é de que haja competitividade, ainda mais com o atual estado da transmissão que hoje, diferentemente de anos anteriores, não é mais uma preocupação dos empreendedores.
O valor para as usinas térmicas no leilão A-6 é de R$ 308/MWh, uma redução de quase 6,5% ante o último certame nessa modalidade. Para o presidente executivo da Associação Brasileira das Geradoras Termelétricas, Xisto Vieira Filho, esse preço estabelecido não traz margens para o segmento, mas classificou esse patamar de preços como razoável. Até porque as usinas que podem ser viabilizadas no certame são aquelas movidas a GNL, ante a indisponibilidade do insumo.
“Para usinas de grande porte a estimativa de preços deve colocar um contingenciamento em caso de atraso e acho que com esse patamar dá para passar as usinas, mas não há folga”, estimou o executivo. Essa avaliação, explicou ele, tem como base as usinas a GNL que utilizarem os terminais de regaseificação já existentes. No caso de centrais térmicas que precisarão, eventualmente, construir seu próprio terminal, aí o valor torna-se, segundo suas palavras, desafiador.
No sentido oposto está a União da Indústria da Cana de Açúcar. De acordo com o gerente de bioeletricidade da entidade, Zilmar de Souza, a redução do preço de R$ 329/MWh para R$ 308/MWh não foi bem vista pelo segmento. A queda de 6,4% não foi uma boa notícia, disse ele, porque a expectativa para os investidores era a de ser verificado o aprimoramento da precificação da fonte com o reconhecimento das externalidades e, com isso, o aumento no valor do teto.
“Há uma preocupação já que vendemos seis projetos no ano passado com o valor mais elevado. O sinal de preços é muito importante pra a bioeletricidade seus atributos positivos”, destacou o executivo da Única. “Outra questão é que a gente concorre com as fontes fósseis, misturar renovável com gás e carvão não é o mais adequado para a política setorial”, acrescentou.
Souza lembrou que os movimentos da biomassa vêm no sentido de retrofit das usinas já existentes e que não possuem capacidade de exportar energia para a rede. O Brasil, lembrou ele citando dados da EPE, possui 158 usinas nessa situação que poderiam entrar no setor elétrico com a troca de caldeira e mais investimentos em melhorias da turbina de vapor. Potencial não falta, lembrou, pois a política do Renovabio é um ponto que vai estimular a produtividade dos biocombustíveis e produzir mais potencial de geração de energia. E que por isso a política do setor elétrico deveria estar concatenada com o Renovabio.
No último A-6, de 20 de dezembro de 2017, a biomassa terminou com deságio 34,10%, levando a um preço médio de R$ 216,82/MWh. A fonte gás natural apresentou deságio de 33,08%, a R$ 213,46/MWh e a fonte hídrica ficou cotada a R$ 219,20/MWh, deságio de 22%. No leilão deste ano a fonte hidráulica está com preço teto de R$ 290/MWh para projetos novos e de R$ 151,68/MWh para projetos com outorga ou contratos de energia já firmados.