A baixa na alta
Privatização da Eletrobras é mais um caso escabroso em série de transações do gênero.
O comentário sobre a desistência de Joaquim Barbosa cabe em uma frase: a causa dos negros não recebeu de Joaquim Barbosa o que precisa e merece.
Passemos à batalha e aos que lutam, de lado e outro. A pretendida privatização da Eletrobras é mais um caso escabroso na série de transações desse gênero. O repórter Lúcio de Castro descobriu, e divulga no site da sua Agência de Jornalismo Investigativo Sportlight, que o governo Temer contratou poderosa assessoria de comunicação para atuar em jornais, TV e rádio de modo a inverter a opinião pública majoritariamente contrária à venda da empresa, como verificado em pesquisas.
O valor do contrato é de R$ 1,8 milhão mais extras. O método consiste na divulgação de notícias e comentários que apresentem a privatização como promissora em contraste com a depreciada empresa estatal.
Até agora não se notam efeitos na opinião pública. Na Câmara houve, sim, alguma redução na ampla resistência a se opor ao eleitorado. Lá, sabe-se, as maneiras de indução de mudança não são notas de noticiário, são outras. E, por esta mesma razão, o tema Eletrobras não é explorado só em termos de privatização ou não.
O relator da proposta, escolhido com precisão, é o deputado do PP fluminense Julio Lopes, o que já diz alguma coisa. Integrante do grupo mais próximo de Sérgio Cabral e de grupos semelhantes na Câmara, seu nome não faltaria no papelório da Lava Jato, versão carioca ou curitibana.
Julio Lopes, como era toda a equipe de Cabral, é versátil nos assuntos de seu interesse. O relatório, exposto em sua forma mais recente, propõe a doação, adicionada às indenizações, de R$ 279 milhões aos que forem demitidos na privatização de distribuidoras de energia no Nordeste e no Norte. Um modo de quebrar manifestações resistentes, convocadas e fundamentadas pelos servidores. Vai mais longe, porém desta vez para outros proveitos.
No relatório do projeto de privatização o deputado Julio Lopes incluiu contrabandos, além de ilegais, imorais e denunciadores dos seus propósitos. Um deles objetiva nada menos do que saquear o fundo social do pré-sal, retirando-lhe recursos dirigidos à saúde e à educação. Sempre a saúde e a educação como vítimas. No caso, para aplicar a usurpação no aumento da rede de distribuição de gás, que o Plano Parente incluiu nas privatizações da Petrobras ao varejo.
Em se tratando de relatório sobre uma privatização, Julio Lopes introduziu lhe também um facilitário para a compra de terras por estrangeiros, um projeto não propriamente brasileiro. Esses contrabandos são indicativos, mas não de convicções. O que traz à afirmação do novo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, de que “as contas de luz subirão menos com a privatização”, bem adequada ao esforço de descrédito da Eletrobras.
As estatais estão em baixa, mas o cinismo nunca esteve tão em alta.