Avanço do PIB e aumento das chuvas aceleram migração para mercado livre

Avanço do PIB e aumento das chuvas aceleram migração para mercado livre

Preços do insumo no início de 2018 atingiram quase metade do teto observado no ano passado, chegando a R$ 533 MWh; períodos de baixa costumam elevar o total de empresas neste ambiente.

O melhor cenário para chuvas em regiões com hidrelétricas e a expectativa de um avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,7%, segundo o último boletim Focus, devem acelerar a migração de consumidores para o mercado livre de energia em 2018 e 2019. A antecipação da contratação de energia a ser consumida no futuro, com um preço pré-estabelecido, está entre as vantagens deste tipo de operação.

Ao contrário do mercado cativo – onde os preços flutuam de acordo com as condições de geração das hidrelétricas e da necessidade adicional de despachos das termoelétricas, além de sofrer a influência dos reajustes anuais definidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para cada distribuidora –, no ambiente livre as empresas contam com a possibilidade de negociar prazos, indexação e preços de forma bilateral, em condições que podem trazer economias de preços das tarifas entre 15% e 25%. Na prática, as empresas conseguem obter uma maior previsibilidade sobre seus custos relativos à energia elétrica.

Expansão

Segundo a Câmara de Comercialização de Energia (CCEE), até setembro do ano passado eram 5.097 consumidores no mercado livre, ante 4.062 no encerramento de 2016 e 1.826 de 2015. O salto, sobretudo em relação a 2015, se deve aos efeitos da crise econômica, quando a demanda por energia caiu, pela desaceleração da atividade – abrindo-se uma janela de atratividade para a migração em razão da queda dos preços da energia.

O presidente da Comerc, Cristopher Vlavianos, destaca que as consequências do atual cenário devem se refletir no incremento da migração não só em 2018, quando pode atingir um crescimento de 20%, quanto para 2019, que poderia avançar até 40%. “As expectativas são excelentes, pois estamos com um baixo preço da energia, após atingir R$ 533 [megawatt/hora (MWh)] em setembro do ano passado. Só que há um efeito retardado: os processos de contratação acontecem agora, mas o início dos suprimentos são entre seis meses e um ano”, explica. Atualmente, o preço está na faixa dos R$ 220 e R$ 250 MWh – quase metade do valor do teto de 2017.

Economia

Uma das empresas que se beneficiaram do baixo preço da energia foi o Grupo Fleury, que atua na área de medicina diagnóstica, que trocou o cativo pelo livre em um processo iniciado 2016 – época em que o valor da energia chegou a variar entre R$ 100 e R$ 150 o MWh. Em 2017, a queda dos custos com energia do Fleury somou pouco mais de R$ 1,5 milhão, o equivalente a uma economia de 20%.

Segundo o gerente comercial de serviços de energia e sustentabilidade da Schneider Eletric (que assessorou o Fleury na migração), Guilherme Palhoto, a expectativa é de que a economia se mantenha na ordem de R$ 1 milhão ao ano, ao menos até 2019. “Apenas a matriz do grupo obteve uma redução de cerca de R$ 650 mil”, ressalta. Para 2018, Palhoto projeta uma aceleração da migração. “Há mais de uma centena de empresas com potencial de adesão”, explica.

Distribuição

Apenas na CPFL, a base de clientes que migraram para o mercado livre cresceu cerca de 53% no ano passado, afirma o diretor de mercado da companhia, Ricardo Motoyama. O ambiente livre já representa 25% de toda a energia consumida no Brasil, sendo que a CPFL participa com 14,1%. Para 2018, a expectativa é de um aumento da demanda energética, se refletindo neste ambiente. “O que vemos é uma pulverização do perfil das empresas que migram”, acrescenta a gerente de inteligência de mercado da CPFL, Fabiana Avellar, em referência à maior adesão de indústrias de médio porte e estabelecimentos comerciais.

“Antes eram as grandes indústrias que aderiam, mas atualmente chega a empresas de menor porte”, diz. Para ingressar no mercado livre, as empresas precisam contar com um consumo igual ou superior a 500 kW. O sócio da Compass Energia, Marcelo Parodi, entretanto, defende um piso mais baixo. “Já existe um cronograma para redução, que deveria ser acelerado. Poderíamos seguir exemplos de outros países que abriram o mercado até para o segmento residencial, deixando o consumidor escolher seu fornecedor, assim como na telefonia ou TV a cabo”, esclarece.