Belo Monte quer compensação para perda bilionária por problemas em transmissão de energia
BRASÍLIA – A lista de problemas da hidrelétrica de Belo Monte cresceu. A usina está cobrando um montante bilionário considerando perdas já registradas e as que podem ser acumuladas até 2022 por não conseguir escoar parte da eletricidade produzida no interior do Pará para o Sudeste.
Maior hidrelétrica em território nacional _ já que Itaipu é dividida com o Paraguai _, Belo Monte tem no Sudeste o seu principal mercado consumidor.
Diante do problema, a Norte Energia, concessionária que administra a usina, pediu à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para ter acesso a recursos financeiros, normalmente usados para reduzir os gastos dos consumidores com a energia das termelétricas, que é mais cara e usada apenas quando o nível dos reservatórios das hidrelétricas está muito baixo.
Para contornar o problema, Belo Monte pediu um tratamento diferenciado à Aneel, conforme documento obtido pelo GLOBO.
“É possível estimar (…) o valor não realizado dessa comercialização, que atingiria a ordem de R$ 850 milhões entre os anos de 2018, 2019 e 2020. Sob a mesma ótica, as projeções a partir do ano de 2021 até o final do ano de 2022 (…), este montante chegaria à casa de R$ 1 bilhão”, diz trecho da carta da Norte Energia.
As dificuldades para escoar a produção da usina devem se estender pelo menos até 2023. É resultado do atraso na entrega de duas linhas de transmissão de energia, com quase dois mil quilômetros de extensão, inicialmente previstas para serem entregues em fevereiro de 2017.
Elas não entraram em operação até agora devido a problemas financeiros que levaram à recuperação judicial da espanhola Abengoa.
Recuperação judicial
A empresa ganhou a concessão em 2012, e a obra deveria ter ficado pronta cinco anos depois. A elétrica espanhola paralisou o andamento das nove linhas de transmissão que deveria construir no Brasil em dezembro de 2015, quando a holding da companhia pediu recuperação judicial.
A subsidiária brasileira da empresa entrou em recuperação judicial em janeiro do ano seguinte.
Com o problema financeiro e obras paradas por todo o Brasil, o governo cassou a concessão e fez um novo leilão. As linhas foram relicitadas e serão construídos pela francesa Engie.
É um processo lento. A nova previsão para entrada em operação é somente em 2023, seis anos depois do prazo inicial, isso sem considerar ainda os impactos causados pela pandemia de Covid-19.
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Todo esse imbróglio está fazendo com que Belo Monte não consiga levar para o Sudeste a energia destinada ao mercado livre. Esse tipo de modalidade de venda de eletricidade ocorre quando o gerador vende a energia direto para o consumidor, geralmente grandes indústrias ou outras empresas que precisam consumir muita eletricidade.
Não há risco de faltar energia
Para fontes ouvidas pelo GLOBO, não há risco de faltar energia no curto e médio prazo caso a economia ganhe tração. O problema é o preço dessa eletricidade.
A energia gerada para as distribuidoras tradicionais, usadas pelos consumidores residenciais, é escoada por outra linha de transmissão, que já está em operação.
Autoridades do setor elétrico avaliam, porém, que o pedido da empresa não deve prosperar, já que o risco de não conseguir entregar a eletricidade é do gerador, não do consumidor. E isso costuma ser estabelecido nos contratos.
A Norte Energia quer um tratamento diferenciado da Aneel também para conseguir vender no Norte a energia nos mesmo preços que seriam praticados no Sudeste, geralmente mais altos.
Procurada, a empresa informou que o documento enviado à Aneel é uma comunicação de rotina. “A Norte Energia esclarece que o documento ao qual a reportagem teve acesso se refere a assuntos tratados na rotina de suas comunicações com o órgão regulador de energia elétrica, no âmbito de sua concessão de geração de energia hidráulica”, diz a nota da empresa.
A hidrelétrica de Belo Monte tem 11.233 megawatts (MW) de capacidade instalada, mas só gerará em torno de 4 mil MW na maior parte do tempo, devido à vazão do rio Xingu. O projeto de construção da usina se aproxima de R$ 40 bilhões. Inicialmente, a previsão de investimentos era de R$ 19 bilhões.
Outros problemas de Belo Monte
Garimpo ilegal
O garimpo ilegal no Pará ameaça derrubar uma linha de transmissão, alertou a empresa que a administra o “Iinhão”. A Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE) informou recentemente que o problema ainda não acabou.
Corrupção
O processo de construção da usina está sob investigação do Ministério Público Federal, em processo iniciado com a operação Lava-Jato. A suspeita é de pagamentos a partidos políticos e parlamentares.
Geração abaixo da capacidade
A capacidade de produção de Belo Monte é de 11.233 MW, mas a média por mês que realmente está sendo entregue é de 4.571 MW em razão da vazão do Rio Xingu. A seca se concentra nos meses de julho a novembro.
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