CEO da EPE sugere debate sobre leilão A-7 para térmicas a gás
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Barral, sugeriu uma discussão sobre a realização de leilão para contratação de termelétricas visando à integração entre o setor elétrico e o mercado de gás natural. O certame poderia ser do tipo A-7, ou seja, com início da operação em 2027, encadeando os investimentos em eletricidade com a construção de gasodutos e demais estruturas de exploração do gás do Pré-sal. A ideia, no entanto, ainda precisaria ser analisada pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
A sugestão se tornou pública durante um seminário virtual realizado na última terça-feira, 2 de junho, e depois foi confirmada pelo chefe da empresa de planejamento energético do Governo Federal. A proposta surgiu quando Barral foi questionado sobre a viabilidade de realizar leilões de energia elétrica neste ano.
O executivo explicou que a pandemia do Covid-19 retirou 5 GW médios da trajetória futura de crescimento da demanda elétrica nacional entre 2020 e 2024. Para ele, essa redução substancial exige uma reflexão se faz sentido contratar nova capacidade de geração para esse período.
Covid-19 acende sinal de alerta sobre a agenda do gás natural
“No ambiente que a as distribuidoras estão sobrecontradas no curto e médio prazo, ampliar os investimentos em geração pode agravar esse problema e aumentar o custo da energia para o consumidor final, porque alguém tem que pagar por esse investimentos. E se o consumidor não precisa dessa energia, ele estará pagando duas vezes”, disse Barral durante participação no webinar Licenciamento Ambiental – Retomada dos Investimentos, realizado pelo Fórum das Associações do Setor Elétrico (FASE) e pelo Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico (FMASE).
Neste momento o Governo Federal está finalizando uma operação de empréstimo da ordem de R$ 15,4 bilhões para prover liquidez financeira às distribuidoras de eletricidade – que em função da redução repentina de mercado perderam receita, estão com sobras de contratos e ainda precisam administrar a crescente inadimplência de seus clientes.
“Por outro lado”, continuou o executivo, “acho que temos que fazer uma reflexão em cima de horizontes mais longos para o leilão, visando a integração de gás e energia elétrica. Isso pode ser uma forma de facilitar a integração daquele gás que ainda precisa de uma solução de escoamento para poder se viabilizar no horizonte A-7, por exemplo.”
Outra reflexão proposta por Barral seria a oportunidade de realizar leilões com pouca demanda para aproveitar a forte competição entre os agentes e contratar energia a preços mais competitivos. “Outra coisa seria ver se faz sentido fracionar essa demanda para capturar uma redução momentânea de custo dessas fontes de geração com contratos de longo prazo.”
Dois leilões exclusivo para térmicas deveriam ter sido realizados em 30 de abril, mas foram suspensos por causa da pandemia de coronavírus. A EPE já havia cadastrado 76 projetos (36 GW de capacidade instalada) para o leilão A-4 e 82 projetos (43 GW de oferta) para o leilão A-5. Outras três leilões de geração e um de transmissão também estão suspensos por tempo indeterminado.
A expansão do mercado de gás natural é a principal agenda do Ministério da Economia para o setor de energia, com objetivos de aumentar a competitividade da indústria brasileira, desenvolver o mercado de gás, gerar empregos e investimentos em infraestrutura.
No entanto, existe um dilema do que vem primeiro: a demanda ou a infraestrutura. As térmicas entram nesse contexto para criar uma demanda firme e prover contratos de longo prazo que deem segurança para os investimentos em infraestrutura de gás natural.