Coronavírus ameaça avanço da transição energética, diz Fórum Econômico Mundial
Um relatório produzido pelo Fórum Econômico Mundial aponta que a pandemia do novo coronavírus ameaça o processo de transição energética da economia global, para sistemas mais sustentáveis, por conta da redução da demanda por energia, da volatilidade dos preços dos principais produtos energéticos e da pressão para mitigar os custos socioeconômicos da atual crise.
Na última edição do relatório Fostering Effective Energy Transition 2020, publicado na quinta-feira, 14, o Fórum Econômico Mundial defendeu o fortalecimento das políticas nacionais, regionais e global visando a manutenção da transição energética em meio ao cenário da pandemia do novo coronavírus. “A pandemia do coronavírus oferece uma oportunidade de considerar a intervenção pouco ortodoxa nos mercados de energia e a colaboração global para apoiar uma recuperação que acelere a transição energética quando a crise aguda diminuir”, disse o diretor de Energia e Materiais do Fórum Econômico Mundial, Roberto Bocca.
No estudo, a organização lembrou que o novo coronavírus obrigou empresas de todos os setores a se adaptarem à interrupção operacional, a mudanças na demanda e a novas formas de trabalho, e os governos introduziram pacotes de recuperação econômica para ajudar a mitigar esses efeitos. Se implementados com estratégias de longo prazo, o Fórum Econômico Mundial entende que essas ações poderiam acelerar a transição energética, ajudando os países a escalar os esforços para sistemas de energia sustentáveis e inclusivos. “Esta crise sem precedente dá-nos a opção de lançar estratégias agressivas, visionárias e de longo prazo, levando a um sistema de energia diversificado, seguro e fiável que, em última análise, apoiará o crescimento futuro da economia mundial de forma sustentável e equitativa”, disse.
As conclusões do relatório são baseada nos resultados do Índice de Transição Energética (ETI) 2020, que avalia 115 economias sobre a ótica do desempenho atual dos seus sistemas de energia. Os resultados de ETI 2020 mostram que 75% dos países melhoraram a sua sustentabilidade ambiental. Esse progresso é fruto de diversas iniciativas, incluindo a retirada de usinas a carvão antes do previsto e o redesenho dos mercados de eletricidade para integrar fontes de energia renováveis.
No entanto, o ETI 2020 aponta que este progresso está limitado pelos ganhos incrementais de políticas e tecnologias existentes. O maior avanço global é observado entre as economias emergentes, ao passo que a pontuação média do ETI para os países no top 10 permanece constante desde 2015, sinalizando a necessidade de adoção de soluções tecnológicas inovadoras, que estão ameaçadas pela Covid-19.
Ranking 2020
A Suécia lidera o ETI pelo terceiro ano consecutivo, seguida da Suíça e da Finlândia. A França (8) e o Reino Unido (7) são os únicos países do G-20 no top 10. Esses países partilham atributos comuns, como limitar subsídios energéticos, reduzir a dependência das importações, obter ganhos na intensidade energética do PIB e aumentar os compromissos políticos para perseguir metas ambiciosas de transição energética e alterações climáticas.
O desempenho no resto do G-20 é variado. Os países emergentes, como Índia (74) e China (78), têm feito esforços consistentes para melhorar o ambiente institucional, que se refere a compromissos políticos, envolvimento e investimento do consumidor, inovação e infraestrutura, entre outros. Porém, a tendência foi moderadamente positiva na Alemanha (20), no Japão (22), na Coreia do Sul (48) e na Rússia (80).
Por outro lado, os resultados de ETI para os Estados Unidos (32), Canadá (28), Brasil (47) e Austrália (36) estão estagnados ou em declínio. Os desafios confirmam a complexidade das contrapartidas inerentes à transição energética. Nos Estados Unidos, fora do top 25 pela primeira vez, os ventos contrários têm estado relacionados ao ambiente político, enquanto para o Canadá e a Austrália os desafios residem no equilíbrio da transição energética com o crescimento econômico, dado o papel do setor energético em suas economias – a mineração do carvão é uma das principais atividades econômicas da Austrália.
No caso do Brasil, o País está entre os líderes mundiais em sustentabilidade ambiental em sua matriz energética, especialmente devido à grande parcela de hidrelétrica na geração de energia e pelo papel pioneiro no uso de biocombustível. No entanto, o estudo aponta que o progresso tem sido lento na criação de um ambiente regulatório estável para atrair capital e investimento, no desenvolvimento de capital humano e na construção de infraestrutura para facilitar a transição energética.
Dados do indicador do Fórum Econômico Mundial apontam que apenas 10 dos 115 países registram melhorias constantes nas pontuações do ETI desde 2015, revelando a complexidade do processo de transição energética. A Argentina (56), a China (78), a Índia (74) e a Itália (26) estão entre os maiores países com melhorias anuais consistentes. Outros, como o Bangladesh (87), a Bulgária (61), a República Tcheca (42), a Hungria (31), o Quênia (79) e Omã (73), também tiveram ganhos significativos ao longo do tempo.
Mais de 80% dos países da amostra melhoraram o desempenho no acesso à energia desde 2015, embora o progresso nos países em desenvolvimento da Ásia e da África continua a ser um desafio. Em economias desenvolvidas, o desafio é o custo do serviço frente à renda da população (affordability). As contas de serviços energéticos representam uma parcela crescente das despesas das famílias, um problema que pode ser agravado pelas incertezas econômicas criadas pelo novo coronavírus.
Para além disso, o Fórum Econômico Mundial conclui que a segurança energética está cada vez mais vulnerável a eventos climáticos extremos, como furacões, inundações e incêndios florestais – que têm aumentado em frequência e intensidade – e ataques cibernéticos.