Elétricas confinam equipes para garantir energia em meio a avanço da Covid no Brasil
SÃO PAULO – Empresas que operam no setor elétrico do Brasil têm adotado medidas que incluem até o confinamento de equipes nos locais de trabalho por dias a fio como forma de garantir que as luzes continuarão acesas à medida que crescem os casos confirmados e as mortes por coronavírus no maior país da América Latina.
O Brasil tornou-se no final de maio a segunda nação com mais registros oficiais de Covid-19 no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Segundo dados do Ministério da Saúde no domingo, o país somava até então 37,3 mil mortes pela doença contagiosa, com 685,4 mil infectados.
As subsidiárias locais das elétricas europeias EDP e Engie estão entre as que já colocaram técnicos sob isolamento restrito para evitar interrupções do fornecimento de energia, assim como as transmissoras de energia Cteep, da colombiana Isa, e Argo, controlada pela colombiana Energía Bogotá e pela espanhola Red Eléctrica, disseram as empresas à Reuters.
Na estatal Eletrobras, maior elétrica da América Latina, ações mais severas como essas ainda não foram tomadas, mas a companhia já começou a se preparar para eventual cenário em que o procedimento se torne necessário ao menos em seus centros de operação vistos como mais estratégicos.
“Encontra-se em fase de finalização um protocolo de isolamento, para caso venha a ser necessária a adoção em pontos bem específicos da operação”, explicou a empresa em nota.
O plano da Eletrobras prevê que o confinamento poderá ser adotado em casos de “contaminação registrada na empresa, com impacto na operação”, com aplicação “nos centros de operação estratégicos ou mais afetados”.
As empresas privadas não informaram o número total de funcionários infectados pelo novo coronavírus.
EMPRESAS AGEM
A EDP Brasil, da portuguesa EDP, já colocou sob confinamento por períodos de 15 dias as equipes responsáveis pela operação de todas as suas usinas, exceto em uma hidrelétrica no Mato Grosso.
Para isso, a empresa aluga pousadas próximas exclusivamente para os funcionários ou monta verdadeiros acampamentos nas próprias instalações de geração. Todos são testados para o coronavírus ao entrar ou sair.
“Nós trabalhamos hoje, em primeira instância, para garantir que o país não pare”, disse o presidente da companhia, Miguel Setas.
“Temos uma usina termelétrica no Ceará, (por exemplo), onde o contágio é tão elevado que se não fizéssemos isso comprometeríamos a operação”, apontou o executivo, ao participar de uma transmissão ao vivo na última quinta-feira.
A francesa Engie também adotou o isolamento em algumas frentes no Brasil, incluindo para técnicos responsáveis pela operação de um complexo eólico na Bahia, o parque Umburanas, disse o presidente da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini.
“É uma das ferramentas que a gente tem usado para poder garantir a segurança da operação e a saúde de nossos colaboradores”, disse ele, na mesma transmissão online, promovida pelo escritório de advogados Leite, Tosto e Barros.
O executivo também disse, sem detalhar, que uma hidrelétrica da empresa em Minas Gerais chegou a isolar equipes, mas retomou a normalidade após um período inicial de cautela e testagem dos funcionários.
Na transmissora de energia Argo, a saída para evitar impactos com a pandemia envolveu a criação de um centro de operações “reserva” em uma subestação da empresa em Parnaíba, no Piauí, que pode realizar todas funcionalidades da sala de comando principal da companhia, em São Paulo.
“É uma atividade que não pode ser interrompida. Nós temos hoje um centro que monitora e supervisiona nossos ativos… e o que nós fizemos foi isolar uma parte da equipe em um ‘backup site’ em Parnaíba, no Nordeste”, disse à Reuters o presidente da Argo, José Ragone.
“Nós alugamos uma residência em que os operadores que foram deslocados para Parnaíba residem, e exclusivamente eles habitam essa residência. Ela é próxima ao centro (de operações), o deslocamento é mínimo”, acrescentou.
Além dessas empresas, a transmissora Cteep tem mantido equipes confinadas desde meados de maio em subestações no Estado de São Paulo, onde é responsável por 94% da energia transmitida, conforme publicado pela Reuters no mês passado.
A Cteep confinou profissionais de 16 subestações consideradas estratégicas e de seus centros de operação, em escalas de 9 dias e de 15 dias de isolamento, respectivamente.
“São 180 profissionais trabalhando neste regime especial. Eles estão alocados em acampamentos equipados com toda infraestrutura necessária para que possam desempenhar suas atividades de forma saudável e segura e passam por avaliação médica frequentemente– até o momento já foram realizados cerca de 680 testes nas equipes”, afirmou a companhia em nota.
Além das medidas de isolamento, as elétricas também têm adotado diversas precauções e elevado preocupações com a higienização das instalações, segundo as empresas.
O Ministério de Minas e Energia registrava até 1° de junho mais de mil casos de Covid-19 entre estatais e órgãos públicos ou agências do setor, incluindo 12 óbitos, dos quais 5 na Eletrobras. Os dados incluem também funcionários da Petrobras e outras agências e empresas públicas de petróleo e mineração.
Os dados da pasta, que não incluem registros de empresas privadas, apontavam para 378 pessoas em quarentena e 842 recuperadas. Apenas na Eletrobras são 122 confirmados com Covid e em quarentena e 76 recuperados.