Empresas elétricas já se movimentam para leilão de distribuidoras

Empresas elétricas já se movimentam para leilão de distribuidoras

As principais companhias do setor de distribuição de energia do país estão se movimento para o leilão das seis distribuidoras da Eletrobras à venda, apurou o Valor. As duas empresas do Nordeste (Ceal, do Alagoas e Cepisa, do Piauí) são as mais atrativas, mas a expectativa é que, havendo segurança jurídica e legal, todas as seis concessionárias podem ser privatizadas.

A participação dos investidores no leilão depende ainda da aprovação pelo Senado e do sancionamento presidencial do projeto de lei (PL) 10.332, que viabiliza a venda das empresas do Norte, e também da derrubada de uma liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Levandowski que veta a venda da Ceal.

A Equatorial Energia estava avaliando todas as distribuidoras, mas deve concentrar seus esforços nas quatro localizadas no Norte: Eletroacre, Amazonas Energia, Ceron (Rondônia) e Boa Vista (Roraima).

A companhia é a preferida para ficar com a Amazonas Energia, a mais problemática das distribuidoras da Eletrobras, por sua experiência na recuperação da Celpa (Pará) e da Cemar (Maranhão).

Além da Equatorial, a Amazonas Energia também atraiu a atenção de uma companhia local do amazonas, a Oliveira Energia, que atua com locação e manutenção de geradores na região e arrematou três contratos como produtora independente de energia no último leilão de sistemas isolados do Amazonas. Segundo uma fonte, a empresa acessou o “data room” da distribuidora amazonense.

A gestora Vinci Partners é outra que está interessada nas companhias no Norte, e sua participação no leilão depende de conseguir levantar os recursos para isso. Segundo fontes, as prioridades da Vinci são Ceron e Eletroacre.

A Vinci Partners também teria interesse nas distribuidoras do Nordeste, mas a expectativa de que as duas atrairão grande competição deve afastar a gestora dos ativos, pela possibilidade de um desembolso muito elevado.

Para Ceal e Cepisa, as principais candidatas são Energisa e Neoenergia, apurou o Valor. As duas companhias têm concessões de distribuição na região e teriam ganhos expressivos com sinergias.

A derrota para a Enel na disputa pela Eletropaulo é outro fator que aumentou o interesse pelas distribuidoras, principalmente no caso da Neoenergia, que é controlada pela espanhola Iberdrola.

O Valor apurou que, após perder a disputa pela distribuidora de energia paulista, a Neoenergia tem trabalhado intensamente para arrematar a Ceal e a Cepisa, situadas em área de atividades da companhia, que já possui três distribuidoras no Nordeste – Coelba (BA), Celpe (PE) e Cosern (RN) -, além de empreendimentos de geração e transmissão de energia.

Devem ficar de fora, segundo fontes, CPFL Energia e Enel. A primeira, embora vá avaliar os ativos pelo seu dever com os acionistas, não deve fazer investimentos relevantes enquanto a oferta pública de aquisição de ações (OPA) da CPFL Renováveis não for resolvida.

Já a Enel está com “muita coisa no prato”, segundo fontes, depois das aquisições da Eletropaulo e da Celg, duas concessões que exigem investimentos significativos.

Procurada, a Enel informou que “está atenta a oportunidades no setor elétrico brasileiro como um todo, mas não comenta sobre ativos específicos”. Já a Neoenergia informou que aguarda a aprovação pelo Senado e a sanção presidencial do PL 10.332 para avaliar as condições e definir se participará ou não do leilão. Energisa e Vinci Partners não se manifestaram sobre o assunto. O Valor não conseguiu contato com a Equatorial.

No governo, o entendimento interno é de que a aprovação do PL é fundamental para a venda da Amazonas Energia e a Boa Vista Energia. Para essas duas empresas, o leilão pode ser adiado, caso o PL não seja aprovado até 26 de julho.

Sobre Ceal e Cepisa, a avaliação do Planalto é a de que as duas distribuidoras podem ser vendidas facilmente. O problema hoje é a liminar do STF que suspende especificamente a privatização da distribuidora alagoana. “É certo que algumas empresas irão à venda dia 26 de julho”, disse uma fonte.

O governo tem adotado extrema cautela para evitar a ocorrência de um leilão vazio. Isso porque um resultado negativo no leilão poderia fortalecer o argumento da oposição de que o negócio é inviável de modo que deveria ser prestado por empresa estatal, com recursos subsidiados pelo consumidor.

A aprovação do PL na Câmara e aumentou as expectativas do mercado em relação ao sucesso das vendas. A ação ordinária (ON) da estatal subiu 2,19% ontem, a R$ 14,44, depois de ter subido mais de 7% durante o dia. As preferenciais classe B (PNB) subiram 2,17%, a R$ 16,92. Ao longo pregão, a PNB chegou a subir 4%.

Ao mesmo tempo em que o PL é fundamental para a Eletrobras e foi comemorado pelo mercado, as mudanças previstas devem trazer pressões tarifárias, alerta Evaldo Santana, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). Segundo ele, as medidas vão trazer uma conta muito grande para os consumidores.