Energia deve ficar 10% mais barata após linhão do Madeira
A antecipação da conclusão das obras do linhão que vai escoar a energia gerada nas usinas do complexo do rio Madeira deve possibilitar uma redução dos preços de energia no mercado à vista (PLD, na sigla para preço da liquidação das diferenças) em cerca de 10% a partir de outubro, calculam especialistas.
Um problema técnico no chamado “eletrodo de terra” atrasou as obras de um dos linhões do Madeira, construído pela concessionária IE Madeira. O eletrodo original foi erguido sobre uma placa de granito, o que poderia comprometer sua operação e de toda a linha de transmissão, que, por ser de alta-tensão, tem o potencial de interromper o abastecimento de energia em grande parte do país.
A nova previsão era que a estrutura seria concluída em novembro do ano que vem, mas as obras foram antecipadas, e o novo eletrodo de terra deve ser disponibilizado ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) no fim de outubro, um ano antes do planejado.
Isso vai ampliar a capacidade de escoamento da energia gerada pelas hidrelétricas do Madeira (Jirau e Santo Antonio) de 5.800 megawatts (MW) para 7.300 MW, aumento de 1.500 MW.
De acordo com Sandro Antonio Saggiorato, gerente de risco de mercado de energia da Electra Energy, mesmo que as duas usinas ainda não estejam gerando sua capacidade total, devido ao regime de chuvas da região, a redução do preço vai acontecer porque o ONS passará a incluir no planejamento toda a capacidade de escoamento dessa energia.
Isso acontece porque os preços vão incorporar a previsão de queda no valor da “água” futura, diminuindo a necessidade de geração térmica. O PLD é calculado com base em dois modelos computacionais: o Decomp, que só considera parâmetros com dois meses de antecedência, e o Newave, que considera um prazo de cinco anos. Será a mudança de parâmetros no Newave que vai causar a queda do preço de energia.
“Como haverá mais capacidade de escoamento, as usinas da região Norte vão contribuir mais em termos de energia transportada para o Sudeste, que é o grande polo consumidor”, afirmou Andrew Storfer, presidente da comercializadora América Energia. Pelos seus cálculos, o PLD pode recuar de R$ 35/MWh a R$ 40/MWh a partir de outubro, dependendo do desempenho da hidrologia, fundamental para a recomposição dos reservatórios do Sudeste.
A Electra Energy prevê que o PLD de outubro na região Sudeste vai passar de R$ 373 por megawatt-hora (MWh) para R$ 333,63/MWh com a antecipação do linhão. Em novembro, a redução será de R$ 224/MWh para R$ 203,36/MWh.
O aumento do potencial de escoamento de energia do Norte também ajudará a reduzir a chance de que o cenário visto em março e abril deste ano se repita. Na ocasião, o PLD do Norte ficou no valor mínimo deste ano, em R$ 40,16/MWh, enquanto o do Sudeste teve preços de até R$ 240/MWh, pois os limites de transferência de energia entre as regiões do país foram atingidos.
O aumento do limite de escoamento da energia do Madeira depende de testes pelo ONS. Se o efeito ficar para novembro, Storfer calcula que a queda no PLD poderá ser de até R$ 50/MWh.
A partir de janeiro de 2019 é que a capacidade plena do linhão será, de fato, testada, com crescimento substancial das vazões do Madeira. Segundo Saggiorato, entre janeiro e junho, o Sudeste contará com mais de 1.500 MW médios de energia a mais como resultado disso.
Mesmo assim, os especialistas explicam que a bandeira tarifária deve permanecer vermelha-patamar 2 até novembro, pois a metodologia do mecanismo considera também o risco hidrológico (GSF, na sigla em inglês), que deve continuar alto até o início do período chuvoso do ano, em dezembro.
Ainda assim, o consumidor do mercado cativo deverá ser beneficiado pela menor necessidade do despacho de termelétricas, que acabam sendo pagas por todos, por meio de encargos.