Expectativa de chuva dentro da média deve segurar preço no início de 2018
Níveis dos reservatórios na região Sudeste precisam atingir patamares acima de 55% até abril, quando se encerra o período úmido, para garantir o abastecimento ao longo do ano que vem.
Preço do Megawatt/hora recuou em dezembro após atingir o maior valor de 2017 no mês de setembro.
Com o período de chuvas apontando para precipitações próximas à média histórica, o preço da energia deve ingressar 2018 com menores pressões de alta, pelo menos até a metade do ano, podendo ficar numa faixa de R$ 200 o megawatt/hora (MWh).
Após atingir pico em setembro deste ano de R$ 534 MWh, o preço recuou para R$ 275 MWh nas últimas semanas de dezembro. “Isso se deve à ocorrência de chuvas, que não foram muito fortes, mas melhoraram as expectativas”, diz o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales.
De acordo com o diretor da Capitale Energia, Rafael Villano Mathias, os reservatórios do Sudeste, por exemplo, devem terminar a época de chuvas – que segue até o mês de abril do próximo ano – em um patamar ao menos acima de 55%. “Esse é um nível que poderia trazer uma operação segura para o sistema ao longo do ano”, afirma.
Em abril deste ano, como comparação, o nível dos principais reservatórios era de aproximadamente 43%.
A disparada do preço em setembro deste ano foi ocasionada exatamente pelo baixo nível dos reservatórios do Sudeste, que chegou ao patamar de apenas 17%. No entanto, as recentes chuvas já elevaram os níveis para 20% em dezembro. “Ainda há um estado crítico, mas os preços recuaram pelo otimismo com o período úmido”, diz o diretor da Capitale.
A preocupação, porém, reside no segundo semestre, já que é o período em que os reservatórios começam a recuar, pois historicamente há seca na maior parte do País. “Se houver uma confirmação do atingimento de um nível seguro dos reservatórios, até o final do período úmido, os preços podem ficar mais comportados”, reforça Mathias. Já caso os reservatórios não atinjam patamares razoáveis, o governo poderá acionar por períodos mais longos as termoelétricas, cujo custo pode atingir os R$ 400 MWh. “As térmicas vêm desempenhando complementando o abastecimento”, diz.
Crescimento
Diante da perspectiva de evolução do Produto Interno Bruto (PIB), que poderia chegar a até 3% em 2018, segundo algumas consultorias econômicas, já se estima um incremento maior do consumo de energia.
Segundo o boletim técnico de previsão de carga de dezembro, elaborado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a expectativa é de um crescimento da carga de energia de 3,7% em 2018, pelo Sistema Integrado Nacional (SIN), para 68.013 MW médios.
Entre janeiro e outubro, o consumo no SIN cresceu 0,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Para o final de 2017, segundo o boletim, “espera-se que se dê continuidade à retomada do consumo observada a partir de setembro de 2017”.
Mesmo diante deste crescimento, Sales, do Acende Brasil, destaca que a demanda de energia atualmente no País retornou aos patamares de 2014, como consequência dos efeitos da recessão econômica. “Imaginamos que a demanda para 2018 será atendida em boa parte pela oferta represada dos últimos anos”, afirma.
Segundo fontes do setor, as distribuidoras devem ingressar 2018 com 2 mil MW médios de sobra energética, aproximadamente. Como comparação, esse valor é metade dos cerca de 4 mil MW médios registrados no início de 2017. De acordo com a Capitale Energia, no início de 2019 essas sobras devem recuar para 500 MW médios. “As projeções de sobrecontratação para 2018 eram até maiores, mas esses riscos foram mitigados pelas renegociações bilaterais realizadas pelas distribuidoras”, explica.
Dados preliminares da CCEE, com medição entre 1º e 18 de dezembro, apontam para uma alta de 2,8% do consumo e de 3,2% na geração de energia elétrica, em relação ao mesmo período do ano passado. Entre os ramos avaliados pela CCEE, incluindo dados de autoprodutores, varejistas, consumidores livres e especiais, os setores de metalurgia e produtos de metais (+11,9%), veículos (+7,9%) e têxtil (+5,4%) registram aumento no consumo. Já os maiores índices de retração pertencem aos segmentos de bebidas (-6%), químico (-4,6%) e minerais não-metálicos (-4,4%).
Riscos
O presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Carlos Faria, por sua vez, é um pouco mais pessimista com o cenário para 2018. Para ele, o País acumula desde 2012 chuvas abaixo da média, que não possibilitaram o atingimento seguro dos níveis dos reservatórios. “Desde que passamos a construir usinas ‘fio d’água’ [que não acumulam água em grandes reservatórios], perdemos muito a nossa capacidade de armazenamento”, afirma.
Dessa forma, argumenta Faria, mesmo que chova de forma mais consistente em algumas regiões, podem ocorrer menores precipitações em outras áreas, comprometendo o nível como um todo do sistema. “Olhando o comportamento até agora das chuvas podemos ver o preço da energia acima dos R$ 200 MWh”, afirma Faria.