Fontes solar e eólica terão dificuldades para avançar no País a partir de 2018

Fontes solar e eólica terão dificuldades para avançar no País a partir de 2018

Fornecedores têm carteiras de pedidos para os próximos dois anos sustentadas pelos projetos contratados em leilões até 2015, mas os cancelamentos recentes colocam em xeque o futuro.

 

As cadeias de energia solar e eólica devem sofrer para manter o ritmo de expansão a partir de 2018. Apesar das perspectivas de aumento da participação dessas fontes na matriz elétrica, a baixa atividade econômica do País deve afastar novos leilões.

Os dois certames definidos para este ano e que visavam a compra de energia dessas duas fontes estavam no radar dos empresários do setor para incrementar a agenda de pedidos a partir de 2018.

No entanto, o 1º Leilão de Energia de Reserva (LER), realizado em setembro, deixou de fora empreendimentos solares e eólicos, contratando apenas energia de Pequenas Centrais Elétricas (PCHs) e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs).

Já o 2º Leilão de Energia de Reserva (LER) do ano, que deveria ocorrer hoje, e tinha 1.260 empreendimentos cadastrados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), foi cancelado na última quarta-feira (14) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

“O motivo do cancelamento é a redução nas projeções de carga de energia para os próximos anos. As novas projeções indicam uma redução de 3.480 megawatts (MW) médios na carga de energia anteriormente prevista para 2019, ano de início da entrega da energia que seria comercializada no 2º LER de 2016”, justificou o MME, em nota enviada à imprensa na semana passada.

Com a economia brasileira demorando a apresentar sinais de retomada, especialistas do setor consideraram acertada a decisão do MME, já que a expectativa é ter um cenário de sobreoferta de energia por um período mais extenso que o esperado no início do ano.

“A previsão desse leilão era ter contratação baixa, porque todos sabem que estamos em um momento de sobra de energia na geração, então é possível deixar novos investimentos de lado por enquanto”, disse a diretora da Thymos Energia, Thais Prandini.

 

Equipamentos

A especialista lembrou que apesar da contratação baixa, o cancelamento do certame agendado para hoje deve ter forte impacto sobre a cadeia de fornecedores.

“Até o ano passado, as empresas que fornecem para eólica estavam muito demandadas. E mesmo sendo uma indústria mais consolidada no País, quando comparada à solar, está enfrentando uma crise e talvez seja necessária uma adaptação dessas indústrias para diminuir custos fixos e se manter no mercado”, avaliou a diretora da Thymos.

Ela lembrou ainda que alguns contratos de empreendimentos de energia solar que venceram leilões anteriores não estão em andamento e podem ficar sem conclusão. “Em 2014, na época da realização de um desses leilões, a economia brasileira ainda vivia outro momento e, nos anos seguintes, a valorização do câmbio e a sobrecontratação mudaram muito a perspectiva para esses projetos”, comentou ela.

O presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, reforçou que essa retração das encomendas para empreendimentos foi sentida pelo setor antes mesmo do cancelamento do 2º LER de 2016. “Essa falta de novos empreendimentos é um problema grave para essas fontes e já tem reflexos na forma de fechamento de fábricas de fornecedores e demissão de funcionários. Mas o setor vai precisar se adaptar a isso”, afirmou ele.

A Vulkan do Brasil, fornecedora de equipamentos para usinas eólicas, contava com o volume contratado do 2º LER de 2016 para garantir novas vendas a partir de 2018, de acordo com o presidente da fabricante, Klaus Hepp. “Esse cancelamento abalou a confiança do segmento, porque cria uma situação que a cadeia de fornecedores não consegue sustentar. Antes eu dizia que esse movimento de stop and go era o pior, mas agora estamos parados, sem expectativa de novos pedidos”, comentou.

Para ele, nem a realização de novos leilões de energia eólica em 2017 serão suficientes para evitar a queda abrupta no volume de demanda para fornecedores instalados no País. “Esse leilão teria que acontecer o mais rápido possível, mas sabemos que não é provável que isso ocorra”, reconheceu ele.

A chance de novos certames para solar ou eólica no próximo ano foi descartada também pelos especialistas ouvidos pelo DCI. Segundo eles, a contratação de novos empreendimentos dessas fontes dependerá do aumento do consumo elétrico no Brasil nos próximos anos.