Geração distribuída cresce 200% ao ano

Geração distribuída cresce 200% ao ano

Atualmente, mais de 51 mil unidades consumidoras são beneficiadas com a autoprodução de energia e a potência instalada é superior a 434 mil quilowatts (kW). Até 2026, a expectativa é que o número suba para 886 mil unidades consumidoras e cerca de 3.200 megawatts (MW) de potência instalada, quantidade comparável à potência instalada das usinas hidrelétricas de Santo Antônio ou de Jirau, no rio Madeira.

Os números são da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Desde 2012, o governo federal autoriza a geração distribuída por meio da Resolução Normativa 482/2012. Segundo a Aneel, o incentivo à modalidade, geralmente localizada próxima aos centros de carga e alimentada apenas com fontes renováveis, especialmente a fotovoltaica, é justificado pelos potenciais benefícios ao sistema elétrico como um todo: postergação de investimentos em expansão nos sistemas de distribuição e transmissão, baixo impacto ambiental, redução no carregamento das redes, redução de perdas e diversificação da matriz energética, entre outras vantagens.

Para o consumidor, a principal vantagem é a economia, já que a conta de luz pode ser reduzida a praticamente zero e não está sujeita a bandeiras, além de estar menos sujeito às oscilações de fornecimento das distribuidoras, como falta de luz em tempos chuvosos. Em média, de acordo com os especialistas, a economia financeira mensal é de até 30%, descontados os custos da instalação de um sistema solar, por exemplo. Além disso, a energia excedente e não utilizada pode ser transformada em crédito nas distribuidoras, otimizando ainda mais o investimento.

O sistema fotovoltaico responde por mais de 80% da potência instalada atualmente. Além do potencial do país para a captação solar, os custos para instalação dos sistemas de painéis vêm caindo nos últimos anos.

“O recurso solar é mais uniforme em todo o país, comparado às outras fontes renováveis. Eólica, biomassa e hidrelétricas estão disponíveis apenas em alguns lugares”, explica o diretor da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), Thiago Barral. “Além disso, a tecnologia fotovoltaica é bastante modular e flexível a qualquer tipo de projeto”, completa Barral.

Até 2026, devem ser investidos cerca de R$ 23 bilhões para expansão do sistema de geração distribuída, segundo estimativa da EPE, ligada ao Ministério das Minas e Energia. Os investimentos devem provocar impactos positivos não apenas na matriz energética, mas na geração de empregos e fomento na economia dos municípios, em especial nas regiões mais pobres, como o Nordeste.

“Imagina quantos empregos serão gerados e o número de empreendedores que devem surgir na instalação de painéis solares”, explica o diretor da Comerc Esco, Marcel Haratz. A empresa, braço da Comerc Energia, investe em projetos de eficiência energética e presta consultoria na área. Segundo ele, a geração distribuída tem despertado cada vez mais interesse das empresas.

Recentemente, a Comerc foi contratada para conduzir um projeto de geração distribuída para a rede de academias Body Tech. Estão previstos 6 MW de energia instalada para atender 39 unidades espalhadas pelo país. Atualmente, a rede paga cerca de R$ 1,1 milhão por mês de conta de luz e o objetivo é uma economia superior a 20% na conta de energia, a partir de 2019. “A economia gerada pelos créditos de energia será mais do que suficiente para pagar o aluguel mensal”, diz Haratz.

Para o sócio-diretor da Ecom Energia, Márcio Santana, a expansão do mercado de geração distribuída nos próximos anos deve abranger principalmente o setor de comércios e serviços de pequeno e médio porte. Atualmente, a maior parte dos consumidores (cerca de 60% do total de unidades consumidoras) é residencial.

“A segunda onda de expansão deve avançar sobre comércios e indústrias que não têm porte para migrar para o mercado livre de energia, mas também não conseguem reduzir o seu consumo de energia mensal”, explica Santana. Segundo ele, um dos grandes desafios é diminuir o desconhecimento da população sobre a possibilidade de utilizar fontes alternativas à matriz energética tradicional. “Quem tem ideia hoje de como ter acesso à geração distribuída para sua casa ou empresa? O mundo digital deve facilitar essa disseminação do conhecimento, mas não sabemos quanto tempo isso vai levar”, diz o sócio da Ecom.