Investimento em biocombustíveis representa leque de oportunidades, diz Julia Fonteles
Imposto sobre carbono fomenta setor
Na escala global, aproximadamente 15% da emissão total de CO2 vem de carros, caminhões, aviões, navios e outros veículos. Essa porcentagem é bastante expressiva, especialmente para países em desenvolvimento. No Brasil, onde a matriz energética ainda é considerada limpa, o combustível fóssil é o terceiro setor a emitir mais CO2 por ano.
A busca por formas alternativas de combustível é um caminho importante para que países como o Brasil consigam diminuir as emissões de CO2 e cheguem mais perto de atingir as metas do acordo de Paris. Interesses ambientais e econômicos fomentam o desenvolvimento de combustíveis mais limpos ao redor do mundo, principalmente na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. Característico por conter fatores similares aos produtos agrícolas, o investimento em biocombustíveis representa um leque de oportunidades que vem acompanhado por muitos desafios.
Existem dois principais tipos de biocombustíveis: os derivados de plantas com um alto índice de amido como etanol, milho, e açúcar e os derivados de óleos como óleo de palma e algas. A principal vantagem do biocombustível é que, durante o cultivo do produto como milho e açúcar, eles absorvem CO2. Quando convertidos para combustíveis, emitem somente o CO2 que já haviam absorvido durante o processo de fotossínteses, sendo considerados um combustível que emite carbono zero. Outra vantagem é que o cultivo dos produtos usados na geração de biocombustível já é bastante conhecido ao redor do mundo, e é relativamente simples e barato.
A principal desvantagem do biocombustível, porém, é que, do ponto de vista do mercado, ele concorre com a produção de outros produtos agrícolas. Isso quer dizer que quando o preço dos alimentos está baixo, há um incentivo maior para a produção de biocombustíveis e vice-versa. Essa competitividade afeta a diversidade e a estabilidade da produção alimentícia global e pode provocar o aumento do desmatamento, já que os produtos competem pelo mesmo espaço. Outras desvantagens incluem o uso excessivo de água e fertilizantes durante o processo do cultivo e a baixa autonomia dos biocombustíveis em relação à gasolina e ao diesel.
Segundo o estudo da revista Nature Energy, conduzido pelo Dr. John Field, pesquisador da Colorado State University, uma das soluções para o problema da competitividade entre alimento e o combustível é a implementação de um imposto sobre carbono.
O imposto visa dar um incentivo maior para empresas cultivarem biocombustíveis de maneira sustentável, sem desmatarem florestas. Ele também fomentaria o investimento em novas tecnologias para produção do biocombustível sintético, que dispensa o uso de grandes áreas agrícolas para plantações. Cultivar biocombustíveis em terras marginalizadas de plantações já existentes também ajudariam a economizar espaço e o custo de transporte.
Outro tipo de combustível limpo em estudo, conhecido como a terceira geração do biocombustível, é produzido a partir de algas. Como as algas crescem em ecossistemas marinhos, o cultivo elimina a competição por espaço das demais fontes de biocombustíveis. Por enquanto, as pesquisas para transformar a alga em biocombustível envolvem a mistura do seu óleo com outros combustíveis, criando biogasolina, bioetanol e biodiesel. Ainda não se obteve resultado de sucesso para a produção de um combustível feito 100% de alga.
Em 2018, a Universidade de Michigan recebeu 2 milhões de dólares do Departamento de Energia Americano para avançar na bio engenharia da planta marinha. O objetivo é determinar qual tipo de alga maximiza a autonomia e eficiência do combustível. Segundo os pesquisadores, o trabalho ainda está em andamento para saber a melhor maneira de cultivar essas algas, mas alguns resultados já comprovam uma redução na emissão de CO2 do combustível de até 60%.
Quando se considera a transformação energética, as discussões sobre biocombustíveis são indispensáveis. Por conta dos problemas associados aos altos preços das baterias de lítio para carros elétricos, o desenvolvimento de biocombustíveis representa uma solução importante para uma transição acessível da frota automobilística na luta climática.