O futuro não será só do petróleo

O futuro não será só do petróleo

Petroleiras ampliam aposta em fontes renováveis e se preparam para atuar como empresas de energia.

Em busca de novas fontes de receita e de olho na economia de baixo carbono, que busca reduzir os impactos sobre o meio ambiente, as principais petroleiras ampliam os investimentos em fontes de energia renovável. Em alguns casos, as empresas pretendem até quadruplicar os recursos para novos projetos a partir da geração solar e eólica nos próximos dez anos. Estas fontes ganham espaço na esteira do crescimento de carros elétricos e da pressão pela redução da emissão de gases causadores do efeito estufa.

A Petrobras pretende investir US$ 400 milhões no desenvolvimento de projetos de geração eólica, solar e biomassa, de acordo com seu Plano de Negócios 2019/2023. Desde a Operação Lava-Jato, a estatal deu início a um processo de venda de ativos e redução de custos para melhorar suas finanças. A companhia priorizou projetos mais rentáveis do pré-sal e optou por fechar parcerias como forma de dividir custos. Dentro dessa estratégia, passou a investir em projetos de energia renovável em conjunto com outras petroleiras, como Equinor e Total, atenta à perspectiva de um futuro em que o petróleo não será mais o único protagonista.

— O ponto central é que as empresas precisam investir na diversificação de suas atividades de produção de energia. A Petrobras enfrentou uma grave crise econômica e por isso vem destinando seus recursos para onde é possível gerar mais lucro. Mas, ao mesmo tempo, a companhia precisa olhar as fontes renováveis e criar novos projetos. Decidiu fazer isso por meio de parcerias. É uma estratégia que não pode ficar em segundo plano —destacou o consultor Carlos Amaral Soares.

AUGE DO PETRÓLEO ATÉ 2050

Para executivos e analistas, as companhias estão buscando novas fontes já que o mundo está passando por uma nova transição energética. Em 2027, no Brasil, a expectativa é que as fontes solar e eólica somem 16,8% da matriz, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Segundo José Firmo, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), as expectativas mundiais estimam que entre 2030 e 2050 o mundo chegará ao ápice do consumo de petróleo. Após essa fase, destacou, o valor de mercado das empresas e os preços do barril tendem a declinar:

— O futuro exigirá espaço para todas as fontes de energia, com uma matriz energética composta de várias fontes fósseis e renováveis. Neste mesmo futuro, nossa indústria contribuirá com o aumento da participação do gás natural, combustível que emite menos e certamente será uma das fontes de energia mais importantes neste momento de transição. As termelétricas a gás são fundamentais para complementar a geração das fontes renováveis, como solar e eólica.

Para o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Décio Oddone, explorar a riqueza no présal é urgente pois essa receita será fundamental para o desenvolvimento das fontes renováveis e limpas como eólica e solar.

— O momento de transformar essa riqueza (pré-sal) em emprego e renda para as pessoas é agora. Se não fizermos isso, vamos perder novamente uma janela de oportunidade, como aconteceu no passado recente, quando ficamos anos sem leilões de petróleo — destacou.

Segundo Guilherme Decaix, sócio da McKinsey & Company, a exploração de petróleo é economicamente viável com o barril a um preço médio de US$ 65. Ele ressalta que o Brasil tem um custo de produção estimado em US$ 35 o barril, o que dá competitividade ao pré-sal.

MUDANÇA ATÉ NO NOME

Algumas petroleiras decidiram até trocar de nome como parte da estratégia da construção de imagem de empresas de energia. A norueguesa Statoil passou a se chamar Equinor. A empresa, que vem comprando ativos no Brasil para explorar o pré-sal, pretende elevar investimentos em fontes renováveis em todo o mundo, passando dos atuais US$ 500 milhões para US$ 2 bilhões até 2030. No Brasil, a norueguesa acaba de colocar em operação uma usina de energia solar no Ceará. Além disso, selou um acordo com a Petrobras para desenvolver projetos eólicos em alto mar.

— O complexo se soma à nossa carteira no Brasil, país considerado estratégico para a empresa. Estamos bem adiantados na nossa jornada para nos tornarmos uma empresa de energia integrada, transformado recursos naturais em energia — diz Pal Eitrheim, vice-presidente executivo de Novas Soluções Energéticas na Equinor.

Já a Total, que firmou uma joint-venture (parceria) com a Petrobras, quer desenvolver uma carteira de projetos que tenham capacidade instalada de até 500 MW nos próximos cinco anos em energias renováveis. Ao mesmo tempo, comprou uma parte de campos de petróleo no pré-sal da Bacia de Santos, como a área de Iara e o Campo de Lapa, por US$ 1,95 bilhão.

O presidente da Ocyan, antiga Odebrecht Óleo e Gás, Roberto Simões, avalia que o petróleo ainda vai ser a fonte de energia mais importante na matriz energética mundial por mais algumas décadas. A empresa é operadora de sondas e plataformas, como a que atua no Campo de Mero, na área de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos:

— Está longe de o petróleo deixar de ser a fonte principal de energia, mas as petroleiras têm que investir nas fontes de baixo carbono. É importante investir em fontes limpas, mas toda tecnologia tem novos desafios a serem superados.