País começa ano com melhor cenário hídrico desde 2012
Após um segundo semestre conturbado em 2017, com realização de reuniões extraordinárias do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), o ano de 2018 começa com perspectivas favoráveis com relação ao regime de chuvas, abastecimento e preços de energia. De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o volume de chuvas previsto em janeiro para o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o principal do país, é 5% superior à média histórica para o mês. É o melhor indicador para o primeiro mês do ano desde o período pré-crise hídrica, em 2012, quando o volume ficou 16% acima da média histórica.
Especialistas do setor, contudo, estão divididos. A maioria deles, de fato, prevê um período chuvoso, que vai até o fim de março, permitindo uma recuperação do nível dos reservatórios hidrelétricos acima do observado em 2017, reduzindo a pressão sobre os preços de energia e a inflação. Já outros analistas estimam que a situação climática vai se deteriorar já no fim de janeiro, prejudicando a recuperação dos lagos das usinas. Sobre o Nordeste, o consenso é que o cenário ainda é preocupante, com baixo nível de estoque nos reservatórios das usinas.
Com o regime de chuvas favorável no início de janeiro, o ONS prevê uma recuperação mais acentuada do nível de armazenamento dos reservatórios, porém ainda abaixo do ideal, fechando janeiro com 35,9% de estoque nos lagos das usinas do Sudeste/Centro-Oeste, que respondem por mais de 70% da capacidade de acumulação de água para geração de energia do país. O número é ligeiramente inferior ao obtido no fim do primeiro mês de 2017, de 37,33%.
Com o cenário mais tranquilo, alguns especialistas esperam que o nível médio dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste alcance 50% no fim de março, quando termina o período chuvoso, contra 42% em igual período de 2017, o que deve se traduzir em preços mais baixos para a energia. “Se chover na média em fevereiro e março, projetamos terminar março com 50% [de armazenamento]” afirmou Paulo Mayon, diretor do grupo Compass, especializado em comercialização de energia. “São notícias boas para efeito de tarifas, inflação e para quem está contratando energia adicional agora [no mercado livre]”, completou ele.
A estimativa da Compass é compartilhada pela Electra Energy. “Enquanto no último período úmido, houve recuperação de apenas 10% no nível dos reservatórios, a tendência para este ano é da ordem de 25%”, destacou Sandro Antonio Saggiorato, gerente de Risco de Mercado da companhia.
O quadro de melhora já se reflete nos preços de curto prazo. O Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) para esta semana recuou 10% no Sudeste/Centro-Oeste, para R$ 176,64 por megawatt-hora (MWh), de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
“O ano já começa bem melhor que o ano passado. Se o período úmido terminar com os reservatórios do Sudeste em nível próximo de 50% e o cenário de chuvas for mantido, teremos preços baixos. Para fevereiro, a tendência que vemos é preços na casa de R$ 140/ MWh a R$ 150/MWh”, disse Carlos Caminada, diretor de Inteligência e Risco da Ecom Energia.
A Comerc Energia trabalha com preços para fevereiro em torno de R$ 135/MWh, caso o volume de chuvas naquele mês do ano fique próximo (96%) da média histórica.
Segundo a consultoria GV Energy, o consumo de energia no país em janeiro deve crescer 1,9% ante igual período de 2017. Ela, porém, ressaltou que historicamente os primeiros meses do ano apresentam maior carga no sistema, devido às elevadas temperaturas. “Caso ocorram temperaturas acima do inicialmente projetado, o consumo do SIN [Sistema Interligado Nacional] pode apresentar uma elevação mais significativa”, indicou a GV Energy, em relatório.
O cenário favorável, no entanto, não é consenso no setor. Segundo a diretora de Meteorologia do Instituto Climatempo, Patricia Madeira, há uma tendência de redução do volume de chuvas na segunda quinzena de janeiro e na primeira metade de fevereiro, mês considerado fundamental em termos de recuperação do nível dos reservatórios hídricos.
“O que vem acontecendo é uma tendência de formação de bloqueio atmosférico no fim de janeiro e que pode restringir a chuva”, disse Patricia. Segundo a especialista, o volume de chuvas previsto para o Sudeste/Centro-Oeste em fevereiro é de 85% da média histórica para o mês.
Também mais pessimista, o diretor da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello, entende que a chuva ocorrida até agora não é suficiente para melhorar a situação dos reservatórios, que, em sua opinião, permanecem com níveis baixos. “A perspectiva é que o ano será razoável, nem tão ruim nem tão bom que os reservatórios se recuperem. Isso perpetuará a crise dos reservatórios, não vamos conseguir enchê-los”, explicou.
Apesar da melhora recente do volume de chuvas e do nível de armazenamento dos reservatórios do Sudeste, o quadro no Nordeste ainda é preocupante. De acordo com dados do ONS, o volume de chuvas previsto para a região em janeiro é de apenas 42% da média histórica para o mês, fazendo com que os lagos das usinas alcancem apenas 19,6% da capacidade de estoque.
“A região [Nordeste] vai demandar atenção especial do ONS”, completou Caminada, da Ecom Energia.