Parada em plataforma deve ter impacto na conta de luz

Parada em plataforma deve ter impacto na conta de luz

Sem gás, termelétricas precisariam recorrer a combustível mais caro.

A decisão da Petrobras de fazer uma parada programada para manutenção na plataforma de Mexilhão, no pré-sal da Bacia de Santos, deve ter impacto na conta de luz do brasileiro, segundo especialistas. A plataforma, que ficará paralisada até 8 de setembro, produz gás destinado a usinas termelétricas no Sudeste e no Nordeste. O episódio deixou em alerta a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Sem combustível, sete usinas devem ficar paradas até meados de setembro. Em ofício encaminhado ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a agência questionou a decisão e pediu ao órgão para avaliar a possibilidade de reprogramação ou reescalonamento das atividades nas usinas por se tratar de período de seca.

Para suprir os 15 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural de Mexilhão, a estatal vai aumentar a oferta de gás natural liquefeito (GNL) importado em 20 milhões de metros cúbicos por dia. Neste cenário, as alternativas seriam usar gás importado, mais caro, ou recorrer a usinas movidas a outras fontes, como diesel, que também têm preço mais elevado.

Em documento, a Aneel critica a parada da plataforma. “Essa condição sugere que, sob a ótica do setor elétrico, o momento escolhido para a parada não tenha sido o mais adequado, visto que o sistema demanda a geração térmica para preservar água nos reservatórios até a chegada do próximo período úmido”, diz o ofício assinado pelo superintendente de regulação dos serviços de geração da Aneel, Christiano Vieira da Silva.

O professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), do Instituto de Economia da URFJ, acredita que a substituição do gás produzido pela Bacia de Santos pelo GNL importado por 45 dias vai gerar um aumento no preço das tarifas:

— O ponto central é que o GNL importado é muito mais caro que o produzido no Brasil. Isso vai trazer aumento nas tarifas. O impacto, no entanto, não será imediato, pois esse custo só será repassado durante a revisão anual do reajuste tarifário. A curto prazo, é a bandeira tarifária que vai cobrir esse custo maior — afirma Castro, que avalia que o consumidor vai continuar a pagar a tarifa extra na conta de luz, a bandeira vermelha patamar 2, que gera custo de R$ 5 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos, até o mês de novembro, quando acaba o período seco.

INSPEÇÕES OBRIGATÓRIAS DE SEGURANÇA

O consultor Fernando Umbria, da LPS Consultoria, disse que o momento é “crítico” para que a manutenção ocorra:

— O problema é que já é preciso operar com usinas mais caras, o custo está alto.

Dados do ONS indicam que o nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste chegou a 35,69%, menor que os 39,46% de um ano atrás. No caso do Nordeste, as usinas chegaram a 35,61%, maior que os 15,56% do ano passado.

Em nota, o Operador Nacional do sistema Elétrico (ONS) informou que a parada da plataforma de Mexilhão não traz qualquer risco para o abastecimento de energia do país. Segundo o ONS, durante a paralisação da plataforma, será feita manutenção também em seis termelétricas, mas não ao mesmo tempo.

A Petrobras explicou que, além das obras de infraestrutura e da manutenção na plataforma, a parada da unidade servirá para atender a inspeções obrigatórias de segurança previstas pelo Ministério do Trabalho. A Petrobras informou que apresentou as ações que serão adotadas às distribuidoras de gás. A estatal destacou que o cronograma de parada das termelétricas foi “discutido e articulado” com o ONS.