PLD horário: contagem regressiva para adoção
Preço horário em 2020 vai requerer aumento da interação de agentes com CCEE para ajustes finais no processo.
Antes da sua efetiva adoção, prevista para janeiro de 2020, o preço horário vai enfrentar em 2019 um ano importante. O período servirá como teste final para o novo tipo de preço, que deixa de ser semanal. O preço horário é uma aspiração antiga do mercado e deveria ter entrado em vigor no começo do século, mas o racionamento acabou adiando o seu início. Hoje com a inserção das renováveis e o conceito de matriz hidrotérmica diferente do que era, o PLD horário ganha força.
Uma operação sombra já vem sendo feita desde abril do ano passado e a partir de outubro começaram a ser disponibilizados os dados da contabilização para os agentes. De acordo com Roberto Castro, conselheiro da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, o processo está correndo dentro do planejado. “O cenário está com clareza para todos os agentes. Nós entendemos que com a alta qualificação que o setor tem, estamos com uma evolução bem definida”, afirma.
O PLD horário vai ser calculado com base em informações previstas e pelo modelo Dessem, que foi desenvolvido desde a década passada pelo Centro de Pesquisa de Energia Elétrica. O Dessem, além de calcular o preço, atua no estabelecimento do despacho. Hoje o despacho já é calculado de meia em meia hora, mas não é possível a sua reprodução para os agentes. Com o uso do Dessem, vai ser possível a verificação. A meta do modelo é reduzir o custo total da operação. Ele tem condição de reduzir a geração termelétrica, operando o sistema com eficiência, diminuindo os custos da operação e os riscos de déficit.
Em dezembro do ano passado, a CCEE realizou um workshop sobre o tema para os agentes, de modo a intensificar a interação com eles. Castro considerou o encontro exitoso, já que houve debate com todos os stakeholders que serão afetados pelo PLD horário. “Pudemos detalhar todo o tratamento que fizemos nas áreas que a gente evoluiu”, avisa. Segundo ele, a CCEE tem separado o processo entre as questões da modelagem computacional do cálculo do preço e as dos impactos em cima dos resultados, que despertam mais o interesse dos agentes. Para Castro, ainda são necessários ajustes no modelo de cálculo do PLD pelo Dessem, que já estão sendo feitas nos fóruns adequados.
Pelo lado do Operador Nacional do Sistema Elétrico, o 2019 também será de preparativos e ajustes finos para o PLD horário em 2020. Luiz Eduardo Barata, diretor geral do ONS, quer que já no começo de janeiro sejam publicados os preços com o Dessem estável. No começo eles sairão só durante a semana, mas nas semanas seguintes serão incluídos os valores de sábado e domingo. “Nossa expectativa é que ao longo de 2019 os agentes possam exercitar suas estratégias de comercialização de operação com o Dessem, para quando chegar 2020 estarmos prontos para o novo regime”, ressalta.
A conversa sobre o assunto vem se mostrando bastante evoluída entre os agentes da comercialização. Eles têm a percepção dos benefícios do preço horário e estão cientes da importância que o ano de 2019 vai ter para uma abordagem perfeita no ano que vem. Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc, considera o PLD horário uma modernidade e vê como natural uma eventual espécie de preocupação dos agentes com a implementação dele, uma vez que passa a envolver uma série de aspectos, como análise, volatilidade e a modulação de cada cliente. “Não é preocupação, mas é uma questão de preparação, para quando o preço vier você já ter mecanismo para ajustar os consumidores que tem uma curva não muito vantajosa em termos de relação com a curva flat”, explica.
Vlavianos conta que na Comerc não estão sendo necessárias grandes mudanças para a implementação do preço horário. A comercializadora já possui um sistema de gestão de consumidores que considera a modulações e tem medição em todos os consumidores, o que a desobrigou de grandes investimentos nos termos de ajustes do sistema. A Comerc vai fazer o envio da medição para o seu sistema, que já é caracterizado hora a hora, restando apenas a tarefa de criar a alteração do preço horário. “O que a gente procura fazer é ficar mais atento é nos clientes que tem curvas e que podem precisar de uma energia no horário fora de ponta”, cita o executivo, lembrando que essa não é uma característica da indústria, mas que poderia ser aplicada em prédios comerciais, por exemplo.
Na comercializadora do Grupo Safira Energia, 2019 será um ano de bastante acompanhamento de todos os processos, em especial os que envolvem o Dessem. Como o modelo é novo, vai ser necessária uma familiarização, já que no cenário anterior havia o Newave e Decomp, modelos que o mercado já estava acostumado. Para a Juliana Hornink, analista de Mercado da Safira, ainda há algumas incertezas no processo, embora ele esteja mais maduro que no ano passado. Segundo ela, 2019 vai ser um ano importante para o PLD horário. “É um ano que estamos acompanhando bem de perto o preço horário, olhando toda a movimentação, para que haja uma transparência com o que está havendo no modelo para que a gente saiba tudo que possa impactar”, frisa.
As incertezas que a analista da Safira se refere são pontos como a previsões das vazões diárias e a contemplação ou não da rede. Segundo o diretor do ONS, houve um trabalho integração com a CCEE e com o Cepel. O Dessem não está pronto ainda, mas ele acredita que ao longo desse ano alguns aprimoramentos sejam inseridos. “Nosso entendimento é que já dá tranquilamente para começar em 2019 a exercitar”, aponta.
Desde o último trimestre do ano passado, já estão disponíveis para os agentes da comercialização a contabilização individualizada da operação sombra, de modo a avaliar os impactos. Roberto Castro, da CCEE, faz a ressalva que quando é divulgado o resultado individualizado com o PLD horário, ele está sendo mostrado em cima de uma estratégia criada pelo agente para o modelo atual. “Se a gente tivesse o PLD horário realmente operando a estratégia comercial seria diferente, portanto o resultado aferido no mercado de curto prazo também seria diferente”, esclarece.
Juliana Homick, da Safira, elogia a disponibilização da contabilização sombra, por ela fazer com que se entenda melhor a operações as premissas que estão sendo usadas. “A contabilização sombra traz a sensibilidade do operacional da CCEE para a gente”, revela. Assim como Roberto Castro, ela reitera que essa contabilização traz dados de negociações que não foram feitas de forma horária, frutos de uma outra estratégia.
Considerando o preço horário um marco importante para a evolução do mercado, Leonardo Salvi, Diretor de Operações da Electra Energy, vê como desafio o acompanhamento detalhado que deverá ser feito junto aos clientes de geração e de consumo. Devido a flexibilização e a modulação da geração, os resultados e riscos deverão ser avaliados para que analise a criação de novos produtos. “É importante ter um ano completo, com ciclo de 12 meses com PLD horário sendo divulgado para que os agentes possam desenvolver novos produtos, é fundamental que tenhamos 2019 com a sombra”, avisa.
O novo volume de dados vai fazer com que os relatórios de acompanhamento da comercializadora ganhem complexidade. Nessa nova rotina, as modulações deverão receber um novo olhar, já que atualmente a flat é a mais usada. A definição de preço para sábado e domingo também pode trazer novas rotinas para as comercializadoras, que também poderão ver um ciclo de contratações, devido ao aumento de volume de trabalho.
O preço horário deveria ter entrado em vigor esse ano, mas acabou adiado para 2020. A justificativa dada à época foi que para o uso do Dessem na programação diária da operação e cálculo do PLD horário, havia a necessidade de aprimoramentos no modelo, para representar melhor aspectos da realidade da operação do Sistema Interligado Nacional. Embora os aprimoramentos integrassem o escopo de implantação do Dessem, os prazos para a implementação, aprovação e disseminação junto aos agentes ultrapassariam a data limite estabelecida pela Resolução 07/2016, do Conselho Nacional de Política Energética.
Este ano, a CCEE não trabalha com a hipótese de atraso na entrada do preço horário. A Câmara atuou para que todas as medidas necessárias fossem adotadas. As regras para janeiro de 2020 já estão aprovadas, o que dá credibilidade para afastar eventuais contratempos e segurança no cronograma apresentado. “Estamos muito seguros do trabalho que foi feito pelas equipes de contabilização e tecnologia, fizeram um processo que chegou em um patamar de credibilidade muito importante”, lembra Roberto Castro.
Cristopher Vlavianos, da Comerc, também não vê motivos para atrasos. Ele cita o empenho da CCEE e do ONS para a implantação do PLD Horário. O fato de já ter havido um adiamento faz com que o risco diminua, na opinião de Leonardo Salvi, Diretor de Operações da Electra Energy. Porém ele não descarta mais um atraso para que mais testes e ajustes sejam feitos em busca de um nível ótimo. “Não pode descartar, o improvável não é impossível”, frisa. O próprio Castro, da CCEE, também lembra que por depender de múltiplos agentes, há sempre algum tipo de componente de incerteza.
A transparência que a CCEE vem buscando no processo vem sendo elogiada pelo setor. A divulgação dos resultados, por meio das simulações e relatórios, além da realização de encontros ao longo do ano vem fazendo com que as dúvidas sejam dirimidas e aconteça uma aproximação entre os agentes e a câmara. “Ela está cumprindo bem o papel de dar o máximo de transparência, isso traz os agentes”, diz Salvi, da Electra.
Outra parcela de agentes impactadas no preço horário é a dos consumidores. Afinal, são eles que vão comprar a energia que no ano que vem passa a ser vendida com base no preço horário. Segundo Vlavianos, eles já estão cientes e haverá pouco impacto para os consumidores, lembrando que eles terão que ajustar esses impactos dentro da sua curva de necessidade. Eles vão ter que testar curvas de geração que sejam mais aderentes às curvas de consumo. Já Juliana Hormick, da Safira, vê os grandes consumidores mais antenados com o assunto e os menores sendo assessorados pelas comercializadoras.