Privatização da Eletrobras tem alto nível de atratividade no mercado

Privatização da Eletrobras tem alto nível de atratividade no mercado

Para analistas, condições vantajosas dos leilões e demanda regional despertam interesse de investidores do Brasil e do exterior para venda de seis distribuidoras do Norte e do Nordeste

O mercado vê com otimismo o processo de privatização de distribuidoras da Eletrobras no Norte e Nordeste e acredita que há interesse por parte do investidor tanto pelas regras estabelecidas quanto pelo potencial de crescimento dessas regiões, de acordo com especialistas ouvidos pelo DCI. À primeira vista, o cenário é pouco vantajoso: além de acumular dívidas e prejuízos, as empresas EletroAcre, Boa Vista Energia, Ceron, Amazonas Distribuidora de Energia, Cepisa e Ceal estão todas localizadas em mercados com menor renda e consumo. Porém, as regras do leilão, previsto para ocorrer até abril, tornam o processo mais interessante para compradores. “Todo mercado de infraestrutura é atraente no Brasil.

Existe uma demanda natural. Com as regras estabelecidas pela Eletrobras, esses leilões se tornaram mais interessantes”, afirma o sócio e diretor da MESA Corporate Governance, Luiz Marcatti. Os acionistas da Eletrobras aprovaram a privatização das seis empresas em assembleia no dia 8 de fevereiro. Na reunião, foi definido que a estatal vai assumir cerca de R$ 20 bilhões em passivos das distribuidoras. Além disso, foi estabelecido um valor simbólico de R$ 50 mil por cada uma das empresas, cifra bem inferior à avaliação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que estimou em R$ 10,2 bilhões o valor total das distribuidoras. “A avaliação do BNDES foi otimista, projetando um aumento de consumo e abreviando o retorno do investimento”, afirma Marcatti.

A melhor proposta no leilão vai ser aquela que abrir mão do maior percentual do acréscimo tarifário transitório concedido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Além do valor mínimo, os compradores irão assumir um aporte financeiro que varia de R$ 240 milhões a R$ 721 milhões, total de R$ 2,4 bilhões no capital social das empresas. A diretora executiva da Thymos Energia, Thaís Prandini, aponta que além das regras da licitação, compradores também podem ser seduzidos pelo potencial de crescimento nas regiões. “A possibilidade de melhoria dos serviços e ganho de performance é grande. Com investimentos, é possível deixar os indicadores melhores. Se houvesse pouco potencial de melhora, seria mais difícil”.

O professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vagas, Arthur Barrionuevo, entende que permitir investimentos na geração e distribuição de energia nessas regiões é mais importante que o valor arrecadado com as vendas do leilão. “A Eletrobras não tem o dinheiro necessário para investir. Para que o preço da energia caia, é necessário alguém com essa capacidade”. Analistas já enxergam a movimentação do mercado com compradores locais, nacionais e estrangeiros como possíveis interessados. “Existem vários fundos de investimento que atuam no setor de energia. Há condições de atrair bons compradores”, diz Marcatti. Grupos privados de energia, como a Energisa, Equatorial e a Enel são especulados como possíveis participantes da disputa.

Pauta Prioritária

Com a intervenção federal no Rio de Janeiro e o impedimento da votação da reforma da Previdência, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, anunciou na segunda-feira (19) uma lista de quinze projetos na área econômica que serão tratados como prioridade. A pauta incluiu a privatização da estatal. Nesta terça-feira (20), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, determinou a criação de uma comissão especial para analisar o projeto. O mercado respondeu bem aos anúncios e a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) fechou em alta, puxada pelas ações da Eletrobras.

O projeto de privatização foi encaminhado ao Congresso no final de janeiro e sofre resistência por parte de grupos políticos, tanto da oposição, quanto da base do governo. A aprovação da venda das seis distribuidoras ocorreu em meio a protestos de trabalhadores. Apesar da polêmica em torno da matéria, o governo projeta que a votação ocorra até abril. Os analistas ouvidos pela reportagem não veem outra forma de salvar a empresa. “Na situação atual, não existe outra opção, as distribuidoras geram dívidas e prejuízos anuais muito grandes”, afirma Thaís.

“Existe um apelo político muito grande, mas não vejo outra saída”. A analista ressalta que chegou a ser discutida a possibilidade de liquidação das empresas. Arthur Barrionuevo acredita que processo de privatização da Eletrobras vai fortalecer a Aneel, responsável por regulamentar o mercado de energia. “É complicado para a Aneel atuar frente a uma empresa tão grande como a Eletrobras. A privatização vai fragmentar o mercado e mudar essa relação de força”, assinala.